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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Srebrenica

Srebrenica



Que em teu solo aspira mil suspiros
Como criança que cospe a dor do fogo
Em lamaçais de lagrimas a vala comum
Entre avós benditos a ração da própria carne
Ai de mim que a terra esconde
Os defuntos sem almas de quem sorria

Tais banhos  de sangue e corpos perfurados
Como tapetes de chuvas no estrado encharcados
Com a vara do trovão fere os ouvidos
Nos limiares do ódio, o gatilho e o estampido
Uma mãe inocente que sobre as flores chora
Sua criança doce,em amargo destino vai embora

Nas flores da bósnia é primavera das dores
Como arco sem flecha as folhas da erva
Num castigo infame mausoléu de todos dissabores
Que em balas e sombras tudo encerra
Tal vil composto se mistura aos prantos
Em valas comuns esconde o medo de tantos

Queira Deus que o mundo não se acabe
Antes que das rosas, os cardos nos encarcere
Pois que da faca aguda, basta a quem fere
Ser julgado por braços que da justiça mais sabe
Eu vos peço socorro nessa eira de tantos ascos
Pois crianças não voa, para serem postas em penhascos

Mas encerra-se esse tão injusto dilema
Como quem dos pobres sente as algemas
Que do sangue que corre na trilha quente
De anciãos e jovens tão inocentes
A brusca voz é um tiro e um estampido do beijo de aço
Os braços de todas as mães caem com tantos balaços

Ah mundo, todos assistiram tão terrível drama
Mas se prostituíam com a conveniência em uma cama
Como a relva seca que em cinzas se dissolve
A dor alheia que tarde vos comove
Quando o colecionador de prantos recolhia
O  réu sentimento insensato da consciência fria.


Clavio J. Jacinto

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