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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Sobre Melancolia


Sobre  Melancolia

 As vezes nosso coração mergulha numa ausência de alegria. Algo difícil de expressar, como se fosse uma estação oca, sem sentido, onde nossa alma arrasta-se levando consigo pesados grilhões espirituais. Nosso coração torna-se pesado, há uma dor invisível e cruel, que lateja no fundo do nosso ser, é difícil de entender, porém essa é uma experiencia clara dentro de nós. A melancolia é como uma ancora que serve apenas para estacionar nossos lamentos numa tempestade. Nossa vida passa por momentos assim, onde o sentido parece se perder da subjetividade. Nessas horas precisamos revolver todos os entulhos existenciais, para encontrar aqueles momentos alegres, perdidos no fundo de um mar de tristeza, pois ao encontra-los, sute um efeito muito bom, é como se estivesse num mar de lama escura sobre densas nevoas, mas com os braços estendidos no fundo achasse uma lampada a acesa e agarrando com as mãos, trouxesse essa luz a tona, para iluminar a nossa face e dar direção aos nossos olhos.

Clavio J. Jacinto

Fome em Bengala




Na tempestade dança as gotas de teus choros
Como lâmpadas amortecidas por um grito infante
Como relvas secas em espinhos recalcitrantes
Perpetuadas pela falta dos grãos que abençoam o pão

E que deveras tristes vagas de sois escuros
Em tormentos nas favelas de estômagos vazios
Como ermo em palhas famintas submersas no frio
Deixem a fúria lamber esses labios verdejantes

Que em desespero tais vidas não saciadas
Que consagram  o pó lambendo a calçada
Pois de uma mó a pedra se seca na imensidão
Numa capa de desventuras nos cais da assolação

Que chora infante em peito sem leite
Pois na urgência  do medo em breu enfeite
As chagas da barriga e o osso na pele
Que das angustias de tantas ânsias expele

Aquele urro num amontoado de túmulos fingidos
Onde cada esqueleto se apega num triste abraço
Para de ultimo suspiro uma fatia da terra nos braços
Deixar a terra e um paraíso de montes fugidios.

CJJ



Asfixia




Desde ódio jaz grave som que exaspera e destila
Nas camadas atmosféricas do grito de guerra
Das portas quebradas nos sertões da eterna terra
Que aguda dor em prantos não consigo respirar

As demências da raiva que polui o meu  ar
Ai de mim, ofegante,  em luta que eis  de suspirar
Pois a fumaça da arma e da batalha é a trama
Que expira e aperta meu fôlego em um drama

Quão pobre meu ser que “non sense” se desespera
Que na falta do oxigênio se debate flutuante  na dor
O ar do amor que se desfaz nesse temível  temor
Nas caladas e antros do vil nevoeiro que tudo dilacera

As andanças da alma crua na sega dessas tensões
De raiva e a ira nas crostas dessas perpetuas  dimensões
Dos homens  ferozes com corações quebrados e feridos
De outros contaminados pelo ódio na alma  inserido

Qual língua de fogo sagaz que a tudo  devora
A parte intima do amor que é totalmente  consumida
Nas brasas da violência que engole as virtudes da vida
Eu tento respirar a índole dos penhascos humanos

Mas que em fios de fabulas eu nem  acredito
Ainda que a caridade seja pra tantos um mito
Meus  pêsames a mim mesmo nessa forte tensão
Desse caustico respirar dessa dura inquietação

Que deveras fuga na noite de São Bartolomeu
Quem poderia ter sido no breu de aço ceifado era eu
Mas corro ofegante nessa intensa  encenação
O ar que respiro nessa batalha que me envolvem

E que diria mais, se tão cansado estou
Por águas profundas minha alma peregrinou
Agora que o descanso da fadiga feroz chegou
Já não preciso da tristeza, preciso de esperança



CJJ

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Castelo de Estrelas



Ai, ai, é o drama das estações das guerras
A arma que sujou as mãos infames de caim
Elas também apontam pra mim
Como se todas as estrelas se unissem no céu
Palácio de um arqueiro se formasse nas nevoas

É o mundo e suas contradições que abrigam
No cenário que das barbáries bélicas, proclamam
Nas calamidades da vida essa encenação
Muitos homens com o fio da historia tecem
A tapeçaria das epopeias, fundamentos da civilização

Nasci nesse mundo e me aproximo
Do campo da batalha que se chama terra
Nesse retumbar de canhões de guerra
Onde a morte passeia e dança de luto
Do parto eu lamento, mamãe me veste de luto

Das fantasias de sonhos que da alma carece
Vem as vias das vaias e choros de quem perece
Mas estou aqui contigo meu grande amigo
Como sarças e arruda, açafrão e bendigo
Nas acácias e nas bétulas e o grito de bem vindo

Sois homens como eu sou mais humano
Dentro de mim esse orgulho mais tirano
Arremessa pra fora a marcha de minha dormência
Dessa que dá pêsames e ri da vossa inocência
Sou homem recém chegado nesse mundo

Mas que me assento em sombras frugais
Em desertos charnecas e telhado de avencais
Pântanos e areias movediças coloridas
Dando grito de abertura, bem vindo a vida
Teu é o aço que faz a existência ser mais dura.

E que nas luzes natalinas de final de ano
Que enxuga as lagrimas do réu que sou
Mal cheguei e vejo a dissolução do amor
No palco belo que as vezes transcende horror
Então o surto de um eco que me desperta


És homem? fica pois em tudo alerta
E vê....


Clavio J. Jacinto

Postais da Aurora Perdida





Ouço o clamor da calamidade entre as grades
De Espinheiros que vertem aromas de vendavais
Em palácios vertidos em palhas e cravos cortantes
Num retoque entre além próximo e mui  instante
Homens que perdem o palco da vida em um cais

Mulheres e crianças chorando  em encenação
Na batida do ritmo da vida do mundo que pulsa
Os vaus de sangue e a triste historia da civilização
De ódio e destreza na violência da adâmica  petição
Onde os murmúrios caçoam das fabulas da repulsa

Tenho a leve  impressão que as harpas são tocadas
No breviário de um mudo que pede a voz de outro
Emprestei a minha que a foice da ceifa sempre acalenta
Desse sentimento tão amargo que me deixa paralisados
Pouco a pouco perdido na ala dos outros  desesperados

Como épico de um jogo moral  que se aproxima
No tóxico horror e a fumaça que verteu  de Hiroshima
Estendo a mão para uma criança vital que chora
Não grite infante, acorde! não estou indo embora
Estou nesse triste cenário da vida, apenas chegando...

Clavio J. Jacinto

sábado, 27 de outubro de 2018

Galáxias psicodélicas




Ilusões coloridas se transformam em luzes
Poções borbulhantes em bolhas de emoções
A loucura amordaça a alma em grilhões
Como ébrios sem ruas, foragidos da noite escura
Do céu da mente miragens  fabulas mirabolantes
Concorrem a vasta algema e o pó do cheiro da morte
Gangorras de gelos e doçuras das mais nuas  ilusões
Um oceano de falsa doçura e caudalosas decepções
No mundo dos neurônios em colapsos frugais
A fabula nociva de vão prazeres sem teto e  chão
Flutuantes imagens  e o desterro das cores fractais
Na boca que traga alma aos vales medonhos e abissais
Dos mirantes portal  da loucura o gás da lua se dissipa
Mercúrio fosforescente  nas favelas da mentira
Onde desabrocham inteiras estrelas caídas das mãos
A psicodélica guerra do engano na foz de destruições
Que deveras tonto e arguto com o cálice do psico-armagedom
Essa é a hora do assombro, o espectro da perturbação
Cai as vaias e risos psicotrópicos de céu sem luzes, escuridão
Nas paragens sombrias da escravidão e suas matizes da assombração
Reverbera teus “ais” nesses universos caídos sem a consolação
Porta do Hades e abertura que saiu o sinistro Aiwass
Corsários em nuvens e algemas das funestas dores
Porta do vicio da vergonha e todos cruéis dissabores
Todo o cárcere desse cosmos se desaba em dores
No apagar das fantasias essa má e terrível entropia
Do céu da boca infesta o efeito da  violenta loucura
Nessa senda fúnebre a lapide que traga é mais dura
Do vicio que arruína a lama na profunda ilusão
Sem juízo e perdido, pobre alma, meu Deus! Viveu em vão

Clavio J. Jacinto

Trevas

Não insista em mostrar a luz, a quem rejeita e difama, em um duro coração obcecado, insistindo em permanecer com os olhos fechados para continuar adorando e servindo as trevas da própria ignorância.

C. J. Jacinto

Laogai




Quando a aurora da esperança  se foi
Em arrozais e águas das montanhas fugi
Pois é tenebroso o caminho dos vales
Nas salivas de um bárbaro me assustei
Quão medonhas são essas torturas
Do asco do ódio a raiva ressuscitada
Dantescas feridas da alma o clamor
Fendas na carne que do caliginoso flagelo
Perde-se nos antros a despedida do belo
Das arestas da vida oh quanto pânico
Dos ferozes açoites de um brado tirânico
Do Laogai o pavor em voraz padecimento
Repugnante campo de hedionda calamidade
O confisco do bem dessa humanidade
O semblante do padecido nas amarras feiúras
Do céu clama o orvalho da brandura
Mas que dessa plebe destruída nos açoites
Que das malignas garras dessa avessa noite
Homens gritam na penúria agonizante
Os camaradas injetam a flama atroz constante
Das forças das trevas e das canduras minada
Que explode nessa raça adestra no chicote vil
Que dos braços de ferro de tantas camaradas
Refaz-se mil sombras a nenhuma compaixão
Da fantasmagórica ira e o abominável fanatismo
Sai das prisões e campos de concentração
Pra semear nas paginas dessa historia
Que o homem é por fora, o que guarda no coração

CJJ

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Corsário das Vaidades


Treme o mar encapelado e a nau falsa geme
Se de fardos se escamoteia as peças de artilharias
Como vagos canhões frouxos e muitos fardos
A carga inútil das vaidades desses homens

Que das pompas de um vão ingrato orgulho
Em silvos de ventos e apólices de entulhos
Quais pergaminhos rasgados de pêsames vãos
A vaidade em laços negros e acenos de mãos

Bem vindo é o inútil que pesa a vida
Fardos de bagagens nas orlas de uma existência
Como cego a espreita no fundo vil da carência
Da fome de querer os aplausos dos mortos

Eis que das vãs bagagens os sacos de silício
Dos solos imaginários e flutuantes edifícios
Que a opulência alimenta na voraz luxuria
De piratas , a farsa e o percurso da penúria

Quão pesado é carregar anseios e vaidades
Mais terrível ondas de águas de temeridades
O flanco de areia e ilhas de paixões mortais
As colunas de tantas ilusões são mais colossais

Que em barbáries, as colinas e naus vertentes
Que nas fabulas embriagadas ilude tanta gente
Nesse motim, me livras, oh vento que sopra norte
Nesse corsário crasso que penaliza própria morte

Que de uma fuga voa como gaivota á proa
Que de carmesim o rosto febril mais desbotoa
Nas janelas de uma arca que se abre e atiça
A fugidia alma nas areias movediças

Na rocha o farol alumia e abrigo estandarte
Nessas pedras que de apriscos, se faz combate
Nas ventanias e canhões que de mim retumbam
Pra perfurar os cascos e pérfidos corsários afundam...

CJJ

Buchenwald




Das colinas de Ettesberg ouviu-se um grito e  estrondo
Tão medonho quanto a lama assustada na panaceia
Um reduto de gemidos sombrios e devassa gargalhada
De medos e opróbrios de uma alma descongelada

As fossas de um kamikaze em pó de carbono morto
Nas retortas de um pobre mendigo que rasteja no vento
Entre fosseis de amor morto que jazem no relento
Que os odres da tortura e violência cravam na carne alheia

Quando o sol perdura em nuvens de tempestade
No apogeu de uma fêmea que assombra por tanta maldades
Eis que de sinistras vozes ecoa o vil e atroz pulsar
De quem suga a vida para escoá-las nos charcos do absinto

Da eira seca  das dores a palha mais se incendeia
De vassouras intrépidas e cães famintos que devoram areia
Um riso sarcástico pela famigerada dor inflama
Uma rosa negra que desabrocha na crueldade humana

Ai  todos esses infantes nos montes,  que mais choram
Que laboram na manutenção das espadas afiadas e ingratas
Na forja de um desespero que distribui os camaradas
Desses  insólitos, em dureza fúnebre que não sentem nada

Não clama e por si a foz de gritos tanto que agonizam
Em mãos de bruxa infame no despertar maligno
Sai em busca de sarcasmos no âmago do mais real  terror
Assim nasceu de pérfida mulher, a penada alma do pavor.


C. J. Jacinto

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Terra de Node




Andavas varrido, correndo como vento fugitivo
Com o coagulo manchando as palmas das tuas mãos
Nos pêsames ardentes pois não serás mais impoluto
Deixastes para trás as os prantos de uma mãe em luto

Que a terra se embriague possante, com teus passos
Que nas noites caladas borbulhem teus fracassos
Porque a culpa é a mancha que se apega a tua mão
E não descansa perpetrando o susto no teu  coração

Como carcaça a erva seca assovia entre as montanhas
Como vasos sem fundo diluídos nos teus espantos
Cântaros fantasmagóricos que afugentam a face fria
Na terra de Node em rios secos e nas campinas vazias

Que em teus filhos contastes tão grande assombro
De ódio deixastes corações mais lesos
Com a carga inalterada, sofres os teus parvos pesos
De atos atoleimados na terra de Node teus escombros.

Apenas a insensatez  sustenta a tua pobre ira
Os espinhos dilaceram a vida  do teu coração
Pois que tomando eles para ferir os outros
Acabas ferindo as tuas próprias mãos.

Assim entre as nuvens secas da tempestade falida
Cantaste  o lamento eterno por ter tirado a vida
Entre ninhos de serpentes brincasse de esconde-esconde
Fugitivo perdido em Node,  não sei mais onde...


Clavio J. Jacinto


terça-feira, 2 de outubro de 2018

O Jardim de Rose Pizem




(Sonhei)
Que as mãos das pétalas eram mais suaves que ódio
Que a luz do luar tímido era um balanço para os anjos inocentes
Que as flores não temem desabrochar em sepulcros
Que as estrelas não morrem de medo da matéria escura

A charneca sustenta o lírio e agasalha a rosa
O aroma do mel silvestre sustenta as cores do arco celeste
Que mais do que perdão precisamos amar depois de perdoar
Que o carinho é o sustento que fortalece a alma da criança
O ouro polido não aquece as chamas de uma felicidade ferida
Os que vivem depois do parto precisam ser alimentados pelo amor

Entre as acácias ouço o sopro da brisa norte
Com o coração cheio de amor, sorrindo, posso encantar o mundo
O que diria mais?
Fui erguida nas campinas verdes dos meus choros
Que as bonecas silenciosas testemunhem de minha  pureza
Como a Andrômeda  distante ilumina meus sorrisos
Então fui ceifada como a erva pura e pisada por um soldado de mármore
Nos tentáculos do acido frio fui retorcida como aço sem alma
E depois de sonhar
(Não sobrevivi)

Clavio J. Jacinto

Niilismo


Niilismo


Que sentido tem a vida (?) , pergunta o louco
Na grama do espirito da relva, assolado grita
Desespero que vive osculando a melancolia
Nas tardes chuvosas de uma primavera fria

No ai de muitas dores colecionáveis
Por vias de aflições portáteis
Nos cais dos gemidos e bussolas quebradas
Sem direção assola o porto a escolta armada

De papeis toscos paredes mimadas
Os rubis quebrados na bucólica calçada
Tapetes persas tingidos de noites sem estrelas
Que ressalvas fazem as sinfonias mais belas

No campo os pirilampos perdidos a esmo
Tudo sem nós o vácuo em vós mesmos
A plebe que em revoadas no mar da angustia
Perece entre cassinos de azares a vida.

Quem boicota a sabedoria tão triste (?)
Quem não sabe agora nem porque existe (?)
Que chora e mais chora a toda dó
Como versos polidos na pedra e na mó

Achaste a doidura nessa enfase  do nada (?)
Nas estancias das lagrimas, naus aparelhadas
Como penas flutuantes que o vento carrega
Do finado a língua que o céu da boca se apega

Que tristeza real e alegria fictícia
Dos artifícios de fogos e lampejos falidos
A vida se escoa pelas mãos do tempo
Sem direção, sem causa, sem proposito e sentido

Que do orbe escuros fundiu a esperança
Como odre de vinho nas semelhanças
Uma bela luz que floresce e alumia
Na tumba da vida,  austero raiar luzia

Os  sonhos flutuantes abriram a janela
Do lado de lá a paisagem agreste mais bela
Na poesia do luar e o sertão de montanhas
Ouvi o consolo de um ancião de cocoras

Que dizia em sacos de silícios e perfumes
O céu da manhã e o esplendor do lume
Que a vida tem sentido quando amamos
E ao seio do labor do amor retornamos

Clavio J. Jacinto

Guido e Ina





Atados um ao outro nessa infâmia
Num epitáfio vivo costurado clama
A mãe que tão nobre, vê e ainda  ama
Aquelas vidas duplas que se derrama
Quem vê tudo isso a raiva inflama
Como um trovão que o susto chama
Com o medo vil que a si difama
Banidos ocos a voz mais declama
O medo vil que a si difama
Imoral ato que afoga a própria lama
Bane ao abismo seco do Atacama
Que horror  dos ossos a mim reclama
Imagino a  cena e o hálito exclama
O furor de quem odeia no escuro a flama
Quem deveras fugir de tão aberrante difamação
Que de tão insensível e cruel ação
Vai e chora o orvalho da estação
Mãe que suspira em vulnerável coração
Ciganos adormecidos no campo da eliminação
Borbulha a tristeza como bolha de sabão
Ver dois filhos entrelaçados entre pés e mãos
Vai e clama em resiliencia a indignação
Mengele açoita os olhos da aberração
Da dor e feridas da agulha que é um arpão
Tais pardais se assustam com a encenação
Chora mãe querida e procura a solução
Injeta a fria morfina que estranha operação
E morre o duplo em tão triste anulação
Atados um ao outro nessa infâmia.

Clavio J. Jacinto




segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Srebrenica

Srebrenica



Que em teu solo aspira mil suspiros
Como criança que cospe a dor do fogo
Em lamaçais de lagrimas a vala comum
Entre avós benditos a ração da própria carne
Ai de mim que a terra esconde
Os defuntos sem almas de quem sorria

Tais banhos  de sangue e corpos perfurados
Como tapetes de chuvas no estrado encharcados
Com a vara do trovão fere os ouvidos
Nos limiares do ódio, o gatilho e o estampido
Uma mãe inocente que sobre as flores chora
Sua criança doce,em amargo destino vai embora

Nas flores da bósnia é primavera das dores
Como arco sem flecha as folhas da erva
Num castigo infame mausoléu de todos dissabores
Que em balas e sombras tudo encerra
Tal vil composto se mistura aos prantos
Em valas comuns esconde o medo de tantos

Queira Deus que o mundo não se acabe
Antes que das rosas, os cardos nos encarcere
Pois que da faca aguda, basta a quem fere
Ser julgado por braços que da justiça mais sabe
Eu vos peço socorro nessa eira de tantos ascos
Pois crianças não voa, para serem postas em penhascos

Mas encerra-se esse tão injusto dilema
Como quem dos pobres sente as algemas
Que do sangue que corre na trilha quente
De anciãos e jovens tão inocentes
A brusca voz é um tiro e um estampido do beijo de aço
Os braços de todas as mães caem com tantos balaços

Ah mundo, todos assistiram tão terrível drama
Mas se prostituíam com a conveniência em uma cama
Como a relva seca que em cinzas se dissolve
A dor alheia que tarde vos comove
Quando o colecionador de prantos recolhia
O  réu sentimento insensato da consciência fria.


Clavio J. Jacinto

Napalm





Quem me dera quebrar todas as muralhas do tempo
Retornar aos dias cruéis do passado
Nas cercanias de um arado quebrado
Onde a fumaça é a semente do terror
Napalm na mão de uma criança inocente
Os tubérculos estão todos dilacerados
As bonecas com face derretida
Ouvindo lamentos de Freud e Derrida
Como nas colunas de um templo antigo
Nos brinquedos ácidos e explosivos
Nas luzes efervescentes do fogo forte
Nas narinas acesas do Vietnã do Norte
Qual dragão que cai do céu ornado
Do ribombar de bombas da calunia incendiaria
Que rasga a fronte da veste mortuária
Desde os dias distantes de Pérgamo ao trovão
Dos infantes brincando no deserto do Afeganistão
Eu choro com a humanidade tão cruel,
Fugiu do jardim da infância o ultimo pedaço do céu.

Clavio J. Jacinto

Marginais




Em luto estão as rosas mais negras
Dos fictícios amores morreu  a serenidade
O catre das vaias que dos réus sossega
A inculta voz rouca da humanidade

Do pacto antigo do caos se apega
O genocídio do amor a  fosca solenidade
Dos bárbaros sonhos que o louco nega
O opróbrio em charnecas de calamidade

O que devora o sensível que se carrega
No sussurro vil que vai contra a verdade
Vem do alto,  nuvem que mais se entrega
Névoas pueris de surtos ácidos, a fatalidade

Que em rostos marginais, a ti se apega
Povo em risos e choros na disparidade
Vai fugindo o amargo do fel que chega
Morrendo o bom senso, nos resta a maldade

Clavio J. Jacinto




Bárbaros Urbanos



Quais vozes ressoam nessas ruas
Atrozes corpos desnudos na falcatrua
Dos  rostos flácidos em calos inflamados
Sussurro do protesto de tantos desterrados
Que na voz maioria ecoa amor ao erro
Colossal vingança será da moral, o enterro
De veludos de línguas matam a vergonha
Nas ciladas da noite arte imoral e medonha
O espanto desabrocha nessa triste usura
Da pobreza do senso, não cônscio da amargura
A  estampa no átrio da perdição e a altivez
Que invocam o dilúvio pra pureza da terra outra vez
Tal qual o hálito da terra perene e o horror
Com que tanto semeia injustiças sem temor
Bárbaros modernos e suas prevaricações
A virgula da civilização engole pobres bastiões
Na murmuração da tempestade os selos fatais
Guerrilhas urbanas e algozes gritos guturais
Te acalma minha alma se a caridade é avessa
Porque de sufoco vive a civilização perversa
Mas haverá para a injustiça um finado
Então de lanças e espadas serão feitos teus arados.


 Clavio J. Jacinto

Lacrimas de chacais




A primavera chegou bem mais cedo
Libera-me das vaidades, o vento, o medo
Que penúrias das incertezas, o niilismo
Nas praias desse pomar de pouco otimismo
Onde Camus chorou as amarguras com chacais
Nem Nietzche conseguiu encontrar a santa paz
Mas  quebrou-se o cântaro das incertezas
Como nevasca das estepes, a flâmula da destreza
Como choro a dor e ainda querer mais
Nas agridoces venturas infantes com meus pais
As lagrimas tecem as vestes da existência
Mesmo penando a alma ganha consistência
Quem me dera esconder o uivo entre as penhas
Onde os chacais choram e o canário desdenha
Nas angustias de um laço que aperta até o profundo
Entra as origens longínquas e o fim do mundo
Sou filho do ermo entre tantas nuvens morrendo
Nos choros da chuva, fluxos ao rio fornecendo
Ate que beije os limos das pedras ao escorregar
Descendo como naus ás profundezas do mar
Entre as parábolas, máximas e aforismos
Deixe-me fora desse triste abismo
Porque nas épicas constelações mais brilhantes
Meu coração elevou-se para viver o eterno instante.

 Clavio J. Jacinto