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sábado, 9 de julho de 2022

Homem Imaginario

 Nuvens dentro de mim (pensamentos)

Em tempestades perdidas no céu da boca

(relampagos) na intransigência da imaginação

Medos orbitam a consciencia

Por entre as pseudos saliencias

O enredo de de minhas mãos

Bebo do calice dessas chuvas e temporais

Como eremita foragido no cais

Das minhas epopeias pensantes

Por um só instante me desperto

Deste surto que me acode o verme

No espelho do poço de prantos

Olho e percebo: sou ente, sou homem


C. J. Jacinto

sábado, 2 de julho de 2022

Simples

 Na primavera dos sonhos

Nada mais vejo senão as flores de um sorriso

Pois em cada uma que desabrocha

me encontro feliz

No outono da felicidade

Os frutos do amor são feitos

De pequenas coisas que se formam

Na simplicidade


C. J. Jacinto

Perdas



 Caindo as folhas de uma árvore

Há na perda

Uma renovação de si mesma

Assim, somos nós, pobres imortais

Quando entendemos todas perdas necessarias

Crescemos em sabedoria e renovamos nossa esperança

Caminhada Sangrenta



 Caminhei nos espinhos da vida

Sangrando irriguei a minha própria direção

Marcas distintas sobre mim mesmo

Como pinturas de batalhas, deixadas para trás

Porquanto percorrendo em gemidos

Nos fastios das minhas aflições prossegui

Com pés perfurados andei

Como feridas aberta, orvalhei o caminho

Deus me deu a graça necessária

No final do trajeto colhi primaveras.



C. J. Jacinto

O COLECIONADOR DE PERFUMES

 



Naquele caminho estava um rude peregrino, levando consigo alforjes cheios de frascos de cristais. Segui rumo a montanha das rosas, era o colecionador de perfumes, amigo das fragrâncias admirador de aromas. O céu estava cheio de nuvens puras como a neve das montanhas de Arkor, o sol brilhava no vale, as pedras e a terra solta da estrada e o vento que descia de Arquimedes, uma cadeia de montanhas azuladas  que transbordava em nevoas de inverno, guardiã do frescor das cachoeiras que nasciam em seus cumes. é hora do descanso matinal, Gilbert (Esse era o nome do colecionador de perfumes) olha para seus alforjes cheios de frascos, alguns deles ainda vazios. Sentado numa pedra de beira de estrada, pedra envolvida por relvas e poeiras, terra solta no vasto mundo do caminho antigo. Gilbert sente a brisa naquele lugar no vale, seu olfato procura fragrâncias livres no ar. É preciso se concentrar, como se o mundo interior fosse ligado ao transcendente das flores, uma busca intima por aromas, um silencio e um espectro de alma acústica sobre as paragens próximas das montanhas. O lugar secreto dos montes esconde as mais exóticas flores, ainda que pequenas e despercebidas aos olhos das multidões, para o homem de alma profunda elas tem um significado muito especial.

 Gilbert permaneceu sentado durante horas, no exercício de concentrar-se e buscar fragrâncias despertas pelo universo do vale. Sua percepção agora estava ativa, e consegue ver os pormenores da natureza, as formigas atravessando a estrada, o zumbido de algumas abelhas, borboletas flutuando entre arbustos, as nuvens deslizando no azul celeste, as folhas dançando ao vento, pequenos redemoinhos fazendo as palhas girarem, os cânticos dos pássaros e perfumes que chegavam até suas narinas. Era hora de levantar-se e ir ao encontro da matriz dos perfumes, local onde encontraria o local das flores que libertavam as fragrâncias que ele podia sentir. A vida quando mergulhada na existência do momento presente nos desperta para ir a busca das riquezas da simplicidade. Gilbert toma um frasco vazio e abre, seus olhos agora são outros, ele segue mata a dentro guiado pelas fragrâncias de algum lírio silvestre, o aroma doce e suave era o fio condutor que acendia sua sensibilidade. A mata estava molhada, recém tinha chovido o cheiro desprendido dos troncos das arvores era inconfundível, até as pedras úmidas desprendiam odores primitivos, as folhas dos arbustos também despendiam o cheiro da alma da floresta. Que mergulho Gilbert estava dando para dentro da natureza, estava tocando a alma da criação, tocando nos fundamentos da vida. Seus passos cuidadosos agora eram percebidos por si mesmo, ele avança mato adentro por uma pequena vereda, a fragrância parece estar mais próxima, e de fato está, alguns passos a frente um manacá-de-cheiro totalmente florido. Então num toque amor e uma respiração profunda, Gilbert aspira até as profundezas do coração, sorvendo o manancial das fragrâncias e depois sopra dentro do frasco exalando o mesmo perfume que respirou. O frasco está cheio de um universo odorífero, uma balsamo preso nas galáxias de um cristal transparente que brilha á luz do sol. Gilbert guarda o frasco cheio no alforje, abre um velho mapa, para identificar o local dos prados dos hibiscos, ele deve prosseguir para lá, colher sementes esparsas no solo daquelas paragens, pois entre os frascos vazios, há um identificado com um selo prateado com a identificação: “almíscar”. Gilbert abre caminho, precisa retornar para a estrada principal, o prado dos hibiscos, fica logo ali, após a distancia que existe entre um coração que ama ao outro coração que corresponde ao mesmo amor. 


C. J. Jacinto