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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Ebola




Do Sudão o feroz vento sopra a morte
Dos átrios de todos os medos a voz do susto
Quanto mais se bebe das chuvas subsaarianas
Mais a morte de vírus veste os tímpanos do luto

E que deveras é retorcido tais coágulos de sangue
Como opera em delírios por harpas  azuis e negras
As vozes enfermiças em choupanas de areias
As  cerimônias da dança sem vida dessa triste sega

Que outrora  na marcha virulenta que se destina
Nos odres de tâmaras e uvas nas faces derretidas
Como das vozes mais choronas  no sal da palestina
Das vorazes e violentas torturas abertas nas tais feridas

Dessas que dos infantes vem tão  vias desastrosas
Como intrépido fumo que desfaz toda a luz da aurora
Como a navalha que açoita as lagrimas aquosas
De tais vidas efêmeras em que cedo vão embora

Mas o que de fato fatal nesse campo atroz
Quem canta a labuta dessa infância sem cura?
Pois do ébrio das lagrimas se sobressai a rouca voz
Dessa vara enfermiça que flagela a pele dura

Dos impérios dessa triste e ingrata devastação
Saem jovens e crianças e tantos outros anjos humanos
Como de um delírio que esconde o rosto com as mãos
Nas proezas de uma investidura cálida e o insano

Dos campos erguidos as matizes das flores
Num pórtico eterno que chama do vulto inocente
Pois nas pupilas das manhãs vêm estas póstumas dores
Cadáveres inertes que outrora foram gentes.

(Em memória as vitimas do ebola da Africa)
Clavio J. Jacinto

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