Pages

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Insólito


Insólito

Quando nas copiosas  mágoas de minhas  dálias
Do luar afresco desse orvalho á efusão
Dos mais frondosos pés descalços das sandálias
Vi a penumbra inócua dessa tão bela fruição

Fui esse descalço pálido nas terras áridas
Das orlas de pântanos e aromas de framboesas
Da noite nebulosa de sombras tão pálidas
Como vaso arcaico na inércia fria do cume da mesa

Num susto que congela   esse âmago da espinha
Eu, burlesco nesse dantesco e sôfrego tédio
Debruçado em palhas, espinhos e debulhadas  pinhas
Na compleição do medo nesse infeliz assedio

Olhei meu reflexo em turva e prava lagoa
Que das vísceras flui tão desdita revelação
Pois é na noite nua que naufraga á proa
Bateu deslustre em afago meu pobre coração

Quais sopros rebeldes foram ao bojo fugindo
No albergue longínquo que tão feroz  se ufana
Em horizontes distantes fui só etéreo  sumindo
Gritos nasais que pra fora de mim loquaz derrama

Nessa austeridade tempestuosa então cheguei
Visão seca da minha alma que flutua mais vazia
Em que tais prantos debulhados me afoguei
Vento insólita alma que de meu pranto fugia

Caindo no vácuo berço efêmero dos parcos escombros
Das trincheiras rasas de minha breve expectação
Qual meu espanto germinando tão pertinaz assombro
Uma emanação florida alumbra o crepúsculo do coração


Clavio J. Jacinto





0 comentários:

Postar um comentário