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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Lirios da Etiópia


A fome infame ceifou tantos infantes
A foice da morte ceifou tantas outras vidas
A terra mais árida, a falência das fontes
O falso pão, a figueira muito mais morta

Uma alma pobre pede o  duro pão
Com pele plácida, põe o rosto no pó
Pois a dor vazia pisoteia o ser vazio
Pedintes em pedaços arrastando a poeira

Clama a jovem, da cor de lírio
Chá de almíscar e balsamo com cravos
Miragem do clima ermo, coração seco
Consigo leva seus ossos, a cruz, o sofrer calado

Terra terrível que não pariu as tâmaras
Sol que tosta o solo, odor de terebintina
Tantas sementes torradas, a mortandade
As mãos tremulas da moça, o estômago mutilado

Leva a leve lua consigo, no espelho dos olhos
A jovem, cor de lírio nos limites do mel
Lançando a mão absinto, aroma de luto
Lamentando porque a lama não é legume ferido

As flores fenecem nessa solidão infecunda
Onde a fuga da fome consola o sofrimento
Os lírios da Etiópia fornecem o vão perfume
O odor fútil, que faz o mundo inteiro fugir

Passou a falta de pão, a erva fértil cresceu
Pepitas de amor e a doce polpa do morango
Os poucos lírios cresceram na praia da esperança
Transformaram-se em jovens adultos e crianças.

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