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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Prisioneiro dos Sonhos.

 


Prisioneiro dos Sonhos



Era um entardecer chuvoso, da janela podia ver o dia mergulhar na noite, uma sensação nostálgica, comum nos dias de chuvas. O cheiro da umidade, um aroma próprio das tempestades, uma tonalidade de cinza e névoa, o calor da lareira, o ambiente penetrante, como  um mundo antigo percorrendo a senda das horas frias.


Fui dormir cedo, eram 19:00, lá fora o reino da noite chorava e eu ouvia as lágrimas caírem do telhado, elas caíam sobre a terra e a relva, e eu fechei meus olhos, para entrar no meu descanso profundo.


Adormeci para o mundo antigo e acordei para um mundo novo. Estava diante de uma praia de areias brancas e águas tranqüilas, um barquinho de papel e mais além, uma ilha, chamada de Calvária.


Embarquei no barquinho de papel e segui rumo æ Ilha.
Algumas horas depois cheguei lá, como era linda toda aquela cena! Um paraíso adequado para ser chamado de sonho, mas aos olhos da alma parecia tão real, um sonho bom é uma vida dentro de uma vida.


Deixe-me dar uma descrição da ilha, Calvária tinha muitas árvores, todas eram floridas, muito parecidas com manacás, mas as flores eram vermelhas, havia também campos de rosas sem espinhos e lavandas tão azuis, que pareciam espelhos do céu.


Essa é uma imagem fiel do que observava. Havia uma trilha, e eu comecei a caminhar para o interior, precisava achar uma fonte de águas, subi um pequeno monte elevado e logo depois um vale, um pequeno lago e uma vila, pequenas casas douradas e chaminés de barro vermelho, quando cheguei perto, um portal anunciava boas vindas, e o nome da cidade Sarõnica.
Havia uma praça em forma de cubo de cristal e refletia para o oriente um prisma de cores muito vivas. A cidade estava vazia, por intuição percebi que não havia ninguém na ilha.
As ruas de Sarõnica eram de um material desconhecido e muito vermelho. Sai da cidade e fui até o pontal do norte, onde havia um farol, uma torre e uma lâmpada em formato de coração que emitia uma luz azul flamejante e muito intensa.
Tão magnífica era aquela ilha, oferecia uma majestosa tranqüilidade, voltei para a cidade, logo percebi, que uma espécie de névoa chegava a cidade, também um vento suave, porém muito forte. Lembrei-me que o barquinho de papel estava na praia, corri até lá e percebi que as águas agitadas desmancharam meu barco e o papel se despedaçou.
Como poderia retornar à praia de onde parti? Como poderia voltar ao meu mundo real? Calculei a distância e julguei quase impossível retornar nadando. Sentei-me na praia, a névoa cobria a ilha, mas de tal modo as partículas brilhavam, que as noites eram bem iluminadas. A razão das névoas serem brilhantes era a praça em forma de cubo que emitia aquele prisma.
Eu precisava encontrar uma folha de papel, construir um novo barco para voltar pra casa, resolvi voltar para Sarõnica, ali talvez encontrasse o papel.


Entrei na cidade, estava disposto a procurar um livro, entrei em uma das casas, na porta havia uma descrição: "biblioteca".  Dentro, havia muitos livros, todos de capas metálicas, de cores variadas. Tomei um dos livros, entre centenas ou talvez milhares que haviam ali.  A capa era branco prateada, abri e notei que não haviam número nas páginas, mas o livro parecia ter aproximadamente duzentas folhas, era um livro perfeito em todos os detalhes, e a surpresa maior foi ter encontrado uma frase, não havia nada mais do que uma grande  frase, e era esta:

"Os bens mais valiosos que devemos buscar na vida, são aquelas coisas pelos quais nos inspiram a viver com coragem"

Fechei o livro, fiquei olhando pela janela da biblioteca, aquela frase me causou certo impacto, no céu azul, nuvens de borboletas voavam com tal ímpeto como se quisessem mover as montanhas de Calvária.


Eu precisava de uma folha de papel para fazer um barquinho e retornar para casa, mas aqueles livros não eram do material que procurava.


Logo descobri que cada um daqueles livros tinha uma frase, uma mensagem que movia o nosso coração para um mergulho na sensibilidade.  Fui até outra estante, peguei um livro de capa dourada, abri suas páginas para descobrir qual frase estava impressa ali, e fiquei impressionado, eis a frase:




"Aquele que aprendeu a sonhar também aprendeu a olhar a vida com os olhos do coração"



Essas palavras eram tão revolucionárias para mim, eu decidi não retornar, ficar cativo das coisas de um mundo tão fantástico, aprender cada lição e viver cada momento. Retornei a praia, sentei-me na areia, contemplei o continente distante da realidade, e decidi ficar ali, Calvária seria para sempre a minha morada...

 

Autor: C. J. Jacinto

Extraído de: Contos Ordinários e Extraordinários

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