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sábado, 16 de março de 2019

Fogo em Roma




Arde a pedra e a arca e harpa
O ataúde e o pó da avareza e a loucura
Arde o véu do choro e as viúvas
O berço das fumaças e as lamparinas

Arde o escuro da noite, as mãos da mó
Crepitar das almas e tantos risos profanos
Arde a argila, o barro e betume, a pústula
O ciúme, a palha, as cinzas das dores

Roma arde em fogo, à palha do beco
Que mata o monturo e aniquila os telhados
O vento canta sinistro, pras chamas  dançarem
Nero recita a loucura e sorri contemplando

A cidade ardida, as ruas caídas
O fogo que devora a fome impiedosa
As libélulas fogem, as sombras se escondem
Roma ruindo e o fogo rugindo sem dó

As ceias sem pães e os jardins sem rosas
Crianças silenciosas e pássaros queimados
Roma que crepita nos sete montes da tragédia
Adormece no espanto do berço da insanidade



 Clavio J. Jacinto

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