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sexta-feira, 21 de abril de 2023

Os Cativos de Togarma

 

  Os Cativos de Togarma



 

C. J. Jacinto

 

 Entre os céus rubros de fim dos tempos, entre a esperança a longo alcance entre terra e mar, o arquipélago de Togarma, destaca-se pelos seus habitantes cativos. O conjunto de ilhas serviu de desterro para certos indivíduos que pensavam por si mesmos. Um grande despenhadeiro ao norte da ilha principal e um farol, uma torre similar á ilha de Pharos e uma arquitetura híbrida de futuro e passado, entre nanotecnologia e figuras góticas, a simetria do caos numa celebre carruagem que flutua nas águas frias do pacifico sul.

Presos aos grilhões invisíveis sob traços de uma idade das pedras, os cativos entoam cantos tristes sufocados, cantam canções aos ventos que fazem as palmeiras e coqueiros tremerem. A liberdade tem um preço alto numa sociedade de ideais baixos, o fim do mundo é o fim da sensatez.

A grande praia que costeava a ilha setentrional estava cheia de pegadas de homens que durante o dia olhavam para a linha do horizonte, sonhando com o ideal de que um dia algum navio de resgate viria para buscar os homens mais sábios do mundo, pois o mundo padeceria sem eles.

O grande dia do resgate, a redenção dos homens sábios, seria um dia glorioso, e a maioria vivia alimentando essa tão preciosa esperança. A humanidade precisava de conselhos, as crianças deveriam aprender sobre as coisas certas e erradas, os jovens precisavam de orientações éticas para estabelecer uma jornada firme na vida. Um mundo carente que se desequilibrava nas incertezas precisava de normas e princípios de vida para não cair no abismo da desilusão.

A grandeza não pode ser diminuída por conta da estima e defesa dos instintos, a transcendência moral não ocorre debaixo da infertilidade do acaso e das incertezas, ela precisa germinar num terreno firme e não em ilusões.

 A população do arquipélago de Togarma experimentava uma paz duradoura, homens sábios estão vivendo suas vidas sensatas, e não há tantas motivações para a inveja de posses, pois cada um deles vivia debaixo de um coqueiro que dava a sombra, a água e o alimento que precisavam, e quando chegavam as tempestades tropicais, se agarravam a eles, pois era tudo o que possuíam para se protegerem dos ventos e das chuvas.

As noites eram singelas e pacificas, as estrelas cantavam a sinfonia do silencio, um decreto perpetuo de majestade que entoava as mais belas poesias sem a necessidade de palavras. E como era comum, o sono era uma escada para os sonhos mais nobres, o sonho da liberdade.

É a liberdade do pensar correto e ser aceito como uma força que coordena a vida para a segurança de todos, um cenário utópico para aqueles dias, pois o mundo era governados por loucos, como se de um laboratório saíssem um numero em serie de psicopatas que se autoproclamavam divinos na astúcia dos instintos mais baixos.

Eu diria com uma certeza veloz, que não há uma prisão mais nobre do que viver a vida na liberdade de consciência, ainda que limitado no espaço e no tempo. O preço que se paga por uma verdade é a opressão daqueles que não suportam ela. Um homem escravo do erro pode ter o mundo todo para fugir e se esconder, mas no final das contas ele é mais cativo, mais prisioneiro, aquilo que nos escraviza dentro de nós é mais cruel e mais devastador, nada pode ser tão trágico quanto uma consciência carcomida pela indiferença, o não sentir o remorso por fazer apologia ao equivoco.

Em Togarma não havia esse tipo de escravidão, a liberdade do coração pode nos levar para os lugares mais amplos da beleza enquanto a escravidão do egoísmo encerra o coração aos recônditos mais abissais das trevas.

Um dia, certo verão, daqueles tão magníficos que o céu parecia ser mais azul, numa manhã ensolarada de brisa amena, estava os sábios reunidos em conferencia naquela praia já citada, e um navio despontou no horizonte, aquela minúscula peça metálica que flutuava nas águas marítimas pouco a pouco se aproximava de uma das ilhas, aquela que estavam reunidos aqueles homens sensatos.

Um raio de esperança brilha naqueles corações que olhavam otimista para o navio que ia se aproximando lentamente, enfim o mundo se lembrou de seus desterrados, com certeza um salto da consciência fez os homens repensarem sobre os crimes cometidos e vieram libertar seus heróis cativos.

Mas o romper da aurora da civilização traz surpresas inesperadas, um arcabouço se abriu, e do navio foram disparados mísseis com ogivas nucleares, sete ao todos, o alvo era cada uma das ilhas.

Uma explosão após outra, as ilhas afundaram, e com elas cada homem sensato, um grande martírio, o fim do mundo, a era dos homens se acabou, o que resta na terra são ébrios sem destino cada qual cavando a própria sepultura para nelas semearem a semente infértil de suas ilusões, era o fim do mundo, o apocalipse que encerra dentro da maldade todos os desesperos dos homens que perderam o significado do amor.

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