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sábado, 2 de julho de 2022

O COLECIONADOR DE PERFUMES

 



Naquele caminho estava um rude peregrino, levando consigo alforjes cheios de frascos de cristais. Segui rumo a montanha das rosas, era o colecionador de perfumes, amigo das fragrâncias admirador de aromas. O céu estava cheio de nuvens puras como a neve das montanhas de Arkor, o sol brilhava no vale, as pedras e a terra solta da estrada e o vento que descia de Arquimedes, uma cadeia de montanhas azuladas  que transbordava em nevoas de inverno, guardiã do frescor das cachoeiras que nasciam em seus cumes. é hora do descanso matinal, Gilbert (Esse era o nome do colecionador de perfumes) olha para seus alforjes cheios de frascos, alguns deles ainda vazios. Sentado numa pedra de beira de estrada, pedra envolvida por relvas e poeiras, terra solta no vasto mundo do caminho antigo. Gilbert sente a brisa naquele lugar no vale, seu olfato procura fragrâncias livres no ar. É preciso se concentrar, como se o mundo interior fosse ligado ao transcendente das flores, uma busca intima por aromas, um silencio e um espectro de alma acústica sobre as paragens próximas das montanhas. O lugar secreto dos montes esconde as mais exóticas flores, ainda que pequenas e despercebidas aos olhos das multidões, para o homem de alma profunda elas tem um significado muito especial.

 Gilbert permaneceu sentado durante horas, no exercício de concentrar-se e buscar fragrâncias despertas pelo universo do vale. Sua percepção agora estava ativa, e consegue ver os pormenores da natureza, as formigas atravessando a estrada, o zumbido de algumas abelhas, borboletas flutuando entre arbustos, as nuvens deslizando no azul celeste, as folhas dançando ao vento, pequenos redemoinhos fazendo as palhas girarem, os cânticos dos pássaros e perfumes que chegavam até suas narinas. Era hora de levantar-se e ir ao encontro da matriz dos perfumes, local onde encontraria o local das flores que libertavam as fragrâncias que ele podia sentir. A vida quando mergulhada na existência do momento presente nos desperta para ir a busca das riquezas da simplicidade. Gilbert toma um frasco vazio e abre, seus olhos agora são outros, ele segue mata a dentro guiado pelas fragrâncias de algum lírio silvestre, o aroma doce e suave era o fio condutor que acendia sua sensibilidade. A mata estava molhada, recém tinha chovido o cheiro desprendido dos troncos das arvores era inconfundível, até as pedras úmidas desprendiam odores primitivos, as folhas dos arbustos também despendiam o cheiro da alma da floresta. Que mergulho Gilbert estava dando para dentro da natureza, estava tocando a alma da criação, tocando nos fundamentos da vida. Seus passos cuidadosos agora eram percebidos por si mesmo, ele avança mato adentro por uma pequena vereda, a fragrância parece estar mais próxima, e de fato está, alguns passos a frente um manacá-de-cheiro totalmente florido. Então num toque amor e uma respiração profunda, Gilbert aspira até as profundezas do coração, sorvendo o manancial das fragrâncias e depois sopra dentro do frasco exalando o mesmo perfume que respirou. O frasco está cheio de um universo odorífero, uma balsamo preso nas galáxias de um cristal transparente que brilha á luz do sol. Gilbert guarda o frasco cheio no alforje, abre um velho mapa, para identificar o local dos prados dos hibiscos, ele deve prosseguir para lá, colher sementes esparsas no solo daquelas paragens, pois entre os frascos vazios, há um identificado com um selo prateado com a identificação: “almíscar”. Gilbert abre caminho, precisa retornar para a estrada principal, o prado dos hibiscos, fica logo ali, após a distancia que existe entre um coração que ama ao outro coração que corresponde ao mesmo amor. 


C. J. Jacinto


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