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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Fortaleza dos Sentimentos


É na fortaleza das convicções que o amor deve repousar seguro, pois muitas vezes o preço da fidelidade tem o custo do sacrifício.

Cuidado e Vigilancia


sábado, 24 de novembro de 2018

ACELDAMA

ACELDAMA


Dos gritos salpicados de dor e seus refluxos
Nas sebes e a causa de tantas feridas e dissabores
Como as curvas celestes que entoam as dores
Nesse campo de túmulos que entornam as flores

Comprado por preço de tantas lamentações
Que do sagrado feito era a entrega fatal
Como o sol que se esconde entre as colinas frias
As lapides sequestram cadáveres da luz do dia

Que campo santo e as jóias das noites de verão
Estrelas brilhantes gravadas nesse estranho sertão
Onde repousam as saudades de tantos entes queridos
Outros pobres anônimos que sairão feridos da vida

Num relâmpago e as cores retumbantes na tempestade
No calabouço desses sepulcros em terra alheia
Como a arte da fatalidade nos mares de areia
O campo de Aceldama se faz fluir as rosas soberbas

Pois desses cantos onde tudo mais floresce
Os vasos de flores silvestres e a pisada humana
Como chuva que aquece o pó e faz a lama
Assim tal campo é a paisagem dos mortos

Que dessas searas silenciosas se afogueiam castiçais
Como a relva ferida que pra palha vai em paz
Assim nesse campo em que a pobreza tanto bendiga
Depois do martírio algoz até a morte se faz amiga...


Clavio J. Jacinto

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A VIDA

O homem perece em seus anseios frágeis, deseja ser nutrido pelos aplausos, precisa da fama e da glória dos homens para encontrar sentido  para a vida. Porém essas coisas são as nevoas da vaidade do existencialismo. Perecem como as flores depois da primavera, murcham como as rosas ceifadas para adornarem os túmulos. O homem semeia ilusões para colher decepções, paga com o preço da própria vida para manter-se na ilusão de que tudo vai bem sem Deus. A vida passa, e o pobre incrédulo constrói seu ninho com as palhas de sua razão, mas a vida é implacavel, ela leva consigo o homem com todos seus encantos, e no fim da jornada, o homem sem Deus fica completamente nu diante da eternidade, sem sentido e sem as cordas da misericórdia divina que poderiam sustentar a sua escalada aos confins do infinito, ele cai no abismo, e só nessa condição desesperada, a ilusão se quebra, e os olhos se abrem para a realidade de que suas ilusões fenecem e com elas, o sua própria vida.

C. J. Jacinto

O FIM DE UMA ERA


O FIM DE UMA ERA

Vêm sobre a nossa noite as teias das trevas
Que do medo é a fiação das vestes de todos os sustos
Com cheiro de citronela e aroma de lavanda
Aos tímpanos feridos de gritos sufocados
Nas vozes de tantos lamentos eu não me calo
Nas danças secretas das samambaias
Movidas pelas brisas do vento marinho
No sândalo sangrando depois da meia noite
A lua revestida de vestidos de nevoas
Tais murmúrios que das sagas das estepes
No perfume do pinho e ramos de ciprestes
Ai dos cravos desalmados nessa  turva turba
As gentes ressoam choros na purpurina
Como se os rios de canforas escorressem pelas arestas
Onde a vida dos homens coleciona cicatrizes
No âmbar e a luz da tarde e suas matizes
Que venha a doce e tão esperada aurora
Pois a batalha é finda e as loucuras cessarão
O cinamomo salpica o muro das lamentações
O gemido terrível do heliotrópio já ouvimos
Dessas batalhas enfurecidas como furações
Represam na praia sem corpo, os ossos quebrados
E quando o fim do mundo chegou aos moinhos
Homens descalços gritam todas as lamentações
Como um Jeremias que carrega o fardo dos prantos
Num ninho de farpas e espinhos tão profundos
Escrevem os anjos nos pergaminhos: (É o fim do mundo)


Clavio J. Jacinto

sábado, 17 de novembro de 2018

Cântaros de Sonhos


Cântaros de Sonhos


Na beira do rio da vida, porto de lama
Quem passa por esses lençóis de nevoas
Encontra o porto de tais secreções lacrimais
Como pássaros ébrios e borboletas douradas
Pirilampos que dançam nos degraus da noite
Vem o estrado onde reinos de sonhos flutuam
Como aromas de  cerejas e cântaros de olivais
Cascatas de estrelas em sacras luzes celestiais
Que das velas sem barco vem esse sátiros
Pra assustar a sorte e semear tantos azares
Porque das rasas beiras desse mar, tantos pesares
Um sonho cresce como os lírios das águas
Nas vertentes de cordilheiras de tantas escuras noites
Meu Deus! e eu com todos os demais
Nesse vinho doce que unge e anestesia a alma
Pois que das tantas feridas, o coagulo chega
Das espadas da existência que recorta
Como ferro batido que serpenteia entre martelos
Cada voz de pétalas que encanta o mais belo
Pois desses vasos de sonhos e ilusões
Se quebram nos portais de ondem saem os turbilhões
Pois de carecida existência nessa terra sem lei
Das escapulas que prendem o madeiro do viajor
Pois das flores que nascem da sepultura, esse horror
Que incendeia a dor dos nossos queridos
Quando a morte chaga mortal se tem ferido
As chaves desse poema apenas faz cortejo
Das entranhas eternas do céu numinoso ainda vejo
Que tantas feridas da alma
Podem ser curadas com um abraço e um beijo

Clavio J. Jacinto

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A Jornada


Uma jornada não é medida pela sua extensão, mas pela particularidade de cada momento do trajeto, um passo de cada vez e devemos estar atentos ás oportunidades de aprender a viver, um passo e o coração atento aos momentos, para que possam ser vividos com sabedoria, uma atenção voltada para o agora, e permitir que tudo chegou com a permissão de Deus, e no final do trajeto possamos apenas concluir que valeu a pena.


C. J. Jacinto

Batalha de Somme



Abismos abertos na terra da poeira faminta
Esconderijo dos olhos que moldam o medo
Tiros aguardam em replicas de giros do mundo
Que dos colossais estrondos repetem os trovões

Os corpos caem! os corpos caem! beijos na lama
Projeteis ressoam e penetram na carne
Quais espinhos de aço que se libertam dos ramos
Atravessam a farda para descansar na carne fraca

Almas formatadas no estouro das novas armas
Retumbantes ecos na agonia da fome da morte
Contam as gotas desse suor que tinge o sangue
Os "ais da repulsa na aurora de tantas feridas

A terra bebe o sangue num luto embriagado
Tantos braços carcomidos no caos dos disparos
Tias bocejos de faces que osculam a surpresa
Das carcaças tremulas que se entregam ao ar

Nesse mar de corpos inertes e tantas farturas
De gemidos que se apegam as línguas da fumaça
Deixe que a história escreve tão grande tragedia
Tais catástrofes sinistras que espantam as traças.

Que das covas saem essas novas calamidades
Das viúvas que perderam entre seus companheiros
A dama intrépida dessa tão terrível saudade
Pois da perda de uma metade, perde-se algo inteiro...

Clavio J. Jacinto

terça-feira, 13 de novembro de 2018

O FRIO NA CALÇADA DA VIDA


 O Frio na Calçada da Existência


Nascer é amanhecer na calçada do inverno
Chegada nas colinas de lampadas enfraquecidas
Com a canção de ninar e olhares paternos
É a vinda pra a terra dos viventes, a vida

É uma chegada e encontro de outro partindo
Nas perolas de tais brilhos de uma ostra ferida
Uma palmada e um beijo assim é o bem vindo
Nessa terra das tantas dores e as pétalas caídas

Quais destrezas dessas estações inquietantes
No calabouço de uma rosa magistral e calafrios
Pois se em mantos de nuvens e choros causticantes
Revemos os portais desse mundo escuro e vazio

Ai que tremor essas cordilheiras de saudades
Pois de voos suaves as mãos da mãe , eu penso
Das cores de uma primavera de tantas bondades
No céu das estrelas de tantos carinhos imensos

E quando já tarde se desperta desse sono infantil
Num luar estupendo que alumia a nossa rua
Vem qual denso grito, sussurro, gemido e assobio
Pra escancara a vergonha dessa vida adulta e nua

Desse desterro o susto é o golpe que nos desperta
Dos ventos que sopram nesse vale cheio de  espinhos
Da vida enfim, no mundo real  agora descoberta
Que dores, decepções, magoas e tribulações no caminho

Mas a vida que é uma esquina de tais duros conflitos
Acendemos uma luz que assombra a hora pessimista
Pois da fé nasce nesse relento da vida, o crer bendito
Pra suportar algozes sombras, de quem na luz acredita


Clavio J. Jacinto

George Stinney





As flores do campo desabrocharam em Alcolu
Entre os espinhos flácidos e as pétalas de aço
Corsários flutuantes navegam nas nevoas da noite
Um triste fim nos átrios pertinentes a relva risonha
Tais tristes cenários de dois anjos tão inocentes
Perdidas no caminho da vida entram nas portas mortais
Corpos inertes em martírio misterioso
E quem dera-me achar culpados
Se a triste cena a tão triste danação
De ver cravado no coração santo a morte
Quem deveria conter tanta má sorte?

Das entranhas da dor, tome cuidado
Para que do ódio não cometas injustiças
Pois sei que é tão risonho o destino cruel
Quando implacavelmente ceifa as incertezas
Pois de certo modo ao errar nos julgamentos
Perdura-se no tempo a falha da grandeza
Que dos palácios de tantas iras e amarguras
Recai-se sob o cálice de tão sonâmbulos  sonhos
As sentenças cruéis que no ódio  são mais duras
Oh desencanto de tão árido caminho vão
Vai contigo e leva o livro sagrado na mão

Foi o relâmpago em teus sonhos dilacerar
Como a arvore que abraça a foice das nuvens
Numa cadeira, trono que se ergue para a eternidade
De um ruído que renasce a crueldade
Vem a ceifa de tais calamidades
Chora teu ultimo respirar no suspense da eternidade
Vem a carga a elétrica como a harpa que rouba o silencio
Num trono de réu ergue os olhos e bem vinda as lagrimas
Não há certeza em nossos julgamentos
Quando os sentimentos e não a razão
Tornam-se juízes implacáveis

Clavio J. Jacinto

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

O Sofrimento e a Panaceia

A vida tem uma janela aberta
Dentro do coração entra o sofrimento
Nela vem nossas tempestades
As chuvas de todos nossos lamentos

Como fogo que devora a alma
Os cardos espinhosos que em seus gritos
Nas chamas densas sem dó e calma
Nas farpas de um madeiro maldito

Quem dera apagar da existência
AS matizes de todas as lamentações
Pois de ternura só não se vive
Nem de faz de conta ou encenações

Que a vida é lastima e escreve
Nessa praia rude de areias breves
As santas e horrendas cores
Dessas tão cheias águas de dores.:

(Fulgurantes
Contusivas
Tenebrantes
gravativas
Lascinantes
Constritivas
Pulsateis
tensivas)

Que as ondas tais fúrias de horror
Apaguem essas descrições tão tristes
Que calejam a alma do homem
Que nesse mundo tão breve existe

Agitadas estão os rostos lacrimejantes
Nos dorsais de ilhas e tais tormentos
Porque na selva do açoute desses instantes
Precipitam tais (Ais) tão remelentos

E eu que era profeta do solo barrento
Adormecido nas recamaras desse fascínio
Sonhei, eis tal folha que cai espavento
Num sobressalto e após sopro, o declínio

Vejo as dores e o receio de tais ventos
Nos precalços incertos dessa ansiedade
Na apreensão que vem nesse aterramento
A esperança do alivio, sem panico: (felicidade)


CLAVIO J. JACINTO

Frases para Refletir







quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Esquinas Quebradas da Nossa Vida



Esquinas Quebradas da Nossa Vida



Ainda me lembro daquelas palavras escritas num sorriso
A face inocente de quem demonstrava amor
Que das poesias de uma breve saudade dava consolação
Como relâmpagos que em fogos breves em chamas fátuas
Carregava meu pobre coração de ilusões
Como erva rasteira nas campinas de uma relva mal humorada
Debulhando mil amarguras dentro de um descampado
Tua mão macia e teus lábios matreiros eram rios de alegrias
Nas turbulências de um choro interno o inverno veio
Com o colapso das moedas de tuas promessas
Caiu o espelho de meus sonhos em chão de faz de contas
Na floresta dessas perturbações emocionais
Fiquei só nas desconsolações de uma ave solitária
E descobri que era homem entre outros homens
Como as folhas do eucalipto num dia de tempestade
Como a pele distópica do sândalo ferido exalava a dor
Era as engrenagens da vida fantásticas que não funcionavam
Tu entre os pessegueiros se escondia nesse faz de conta
Quanto a mim, corri na vida desventuras
Numa nuance de espadas quebradas numa guerra sem fim
Mil sonhos foram comprados no mundo doido
Quando descobri que era prudente esquecer
Tomei as folhas das minhas torturas
Resolvi encarar a vida como ela é
Só então descobri que a felicidade estava logo além
De todas aquelas esquinas quebradas

Lamento a todos que não quiseram prosseguir comigo

Clavio J. Jacinto




terça-feira, 6 de novembro de 2018

A Luz e o Caos





Era Uma terra devastada e tão nua e vazia
Nas noites que a desordem clamava e jazia
Num antro que nebulosas escuras prevaleciam
Atóis de fogo em cinzas e brasas que ardiam


Sem forma e em oceano de desordens
Nos prantos que o caos em simulacros acodem
Numa terra que em vastos chãos queimavam
Ali nos raios cósmicos e tais sombras reinavam


Nos cristais que flutuavam e ouro inflamado
O carbono que nas chamas do fogo dançavam
Que do caos a pedra e o ferro borbulhavam
Por essas frestas do passado tanto me assustava


Rios sem bálsamos e jardins sem flores
Tais épicos seriam de tantos cruéis horrores?
Ou seria o berço onde nasceriam todas as dores?
Os silvos dos ventos respondem que (Não)


Das vastas ondas dos cruéis sopros e vendavais
Pois dessas desordens não encontro o cais
Inseguro nos lampejos desse entardecer
Que das pompas, súbitos estrondoso a estremecer


Que das póstumas ruínas desse fel me escondo
Dos meus pêsames e os sulfúreos vendavais
Aconchego-me nas minas da terra e ainda mais
Nos restos mortais de Babel e seus escombros


As pontes de um cálice que das águas ecoa
Para que em breu fumo que sai, o céu entoa
Num relance a voz que do alto sublime bradou
(Haja luz) e da aurora perfeita, a luz da ordem raiou...


Clavio J. Jacinto


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Em Sincera Humildade

Em Sincera Humildade

Nossa humildade se sustenta da nossa sinceridade. A tendencia do homem egoísta e egocêntrico é somar os defeitos dos outros. Mas é fato que ninguém pode conhecer tanto a si mesmo como, quanto um egocêntrico. Ele conhece alguns defeitos alheios, mas conhece tudo sobre si, portanto a regra de um homem sincero é sempre considerar-se pior d o que os outros, porque vai encontrar dentro de si, todas aquelas mazelas que não tem certeza de encontrar nos outros. Encontrará dentro do próprio coração aqueles desejos impuros que nunca saberá com certeza se existe no coração dos outros, encontrará todos os pecados mais terríveis que não terá certeza se encontrará na intimidade dos outros. Não há duvida, de que o homem humilde e sincero, colocará a si mesmo como o pior de todos os homens, e quando ele reconhece isso, estará disposto a aceitar sempre a misericórdia de Deus e a viver pela graça oferecida pelo evangelho e que nos é dada pela morte e ressurreição de Cristo

Clavio J. Jacinto

Poveglia





Dos cais de teus portos eternos jaz silencio
Dos ossos escondidos em teus arsenais
Dos homens que no naufrágio do próprio desespero
Nas caladas indignas do medo se desfaz

Quem em ti passa a noite toda,  sozinho?
Se tais assombros se acampam no denso  calafrio
Quais betumes de morte e pestes  que te retratam
Nos ventos mortuários que por frestas assoviam

Das relvas e a vida humana que vem e vai
Nos poros de um épico que a brevidade tece
Dos códigos mortais de uma leve sombra que se esvai
Do existir que dos poucos anos se evanesce

De tais praias não tem um acesso em terra
Dos  amargurados que na desolação do isolamento
Foram banidos das ruas da cidade das sombras
Para ver um ultimo pulsar depois do batimento

Quais tenros lábios que beijaram a frieza
Num ultimato de fausta coragem da emancipação
Que em ti cada cadáver a mais veja
O Mergulho na tumba e a sombra da desolação

Pois a morte que nos ronda algum dia chega
Com a fartura de muitos dias que são somados
Ou a ceifa das enfermidades que ao homem vem
Das portas da vida que batem ou nos é negado

Que das ânsias dessa ilha de dores  e tantas fadigas
Nas ponderações nobres sobre a nossa brevidade
Folgas e vive de esperanças, sustos e há quem diga
Brava é a vida que o tempo com o porto da eternidade


CJJ

Ebola




Do Sudão o feroz vento sopra a morte
Dos átrios de todos os medos a voz do susto
Quanto mais se bebe das chuvas subsaarianas
Mais a morte de vírus veste os tímpanos do luto

E que deveras é retorcido tais coágulos de sangue
Como opera em delírios por harpas  azuis e negras
As vozes enfermiças em choupanas de areias
As  cerimônias da dança sem vida dessa triste sega

Que outrora  na marcha virulenta que se destina
Nos odres de tâmaras e uvas nas faces derretidas
Como das vozes mais choronas  no sal da palestina
Das vorazes e violentas torturas abertas nas tais feridas

Dessas que dos infantes vem tão  vias desastrosas
Como intrépido fumo que desfaz toda a luz da aurora
Como a navalha que açoita as lagrimas aquosas
De tais vidas efêmeras em que cedo vão embora

Mas o que de fato fatal nesse campo atroz
Quem canta a labuta dessa infância sem cura?
Pois do ébrio das lagrimas se sobressai a rouca voz
Dessa vara enfermiça que flagela a pele dura

Dos impérios dessa triste e ingrata devastação
Saem jovens e crianças e tantos outros anjos humanos
Como de um delírio que esconde o rosto com as mãos
Nas proezas de uma investidura cálida e o insano

Dos campos erguidos as matizes das flores
Num pórtico eterno que chama do vulto inocente
Pois nas pupilas das manhãs vêm estas póstumas dores
Cadáveres inertes que outrora foram gentes.

(Em memória as vitimas do ebola da Africa)
Clavio J. Jacinto

sábado, 3 de novembro de 2018

Desperta Tu que Dormes




Sais de sono em praias sem lagrimas e opulências
Vi o descanso sempiternos de tais pródigos vivos
Homens no dormitório das nuvens do passado
Filhos órfãos que não aprendem com as tragédias.

Escreve a historia das dores e adormece
Canção de ninar sombrio nas noites sem luz
Apolices de sonhos nas barbas de um mendigo
Turvos cravos em feno que repousa na madrugada

Das vertentes de um sonâmbulo as escarpas
Panacéias embutidas em frascos de perfumes
Tais súbitos gritos em vãos póstumos conflitos
Atende ao clamor desse esfomeado bendito

A anestesia das ultimas lagrimas nesse jardim
Como pães carcomidos nos orvalhos núpcias
Cascas de frutas em incensos amortecidos
No vácuo desses  tristes silêncios adormecidos

Não foge mais desperta, olhe ao muno mudo
Nas caladas das manhãs ressoa as angustias
Nas barragens da loucura as fabulas fictícias
Desses cemitérios de vivos  voláteis insensatos

Desperta desse amargo sono frágil e infecundo
Porque das paragens fatais do fim do mundo
Um oceano trêmulo de corpos estão adormecidos
Precisam ouvir gritos fracos e depois fortes gemidos

CJJ

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Omisso



Omisso

Não andas descalços em brasas acesas
As lagrimas alheias não te pertencem
Na fome, todas as migalhas são tuas
O gemido do outro é teu silencio
A voz do justo é tua ofensa
O egoismo a tua sublime prisão
Do teu orgulho nascem tuas tentações
Tua opinião é maior do que a verdade
A tua ilusão acima da realidade
Pondera teu erro em vão vaidades
És enfeite de sociedade corrompida
Sem virtudes és respiração quase sem vida
Não andas descalços em vidros cortantes
A vida pra ti é impossível utopia
Na própria sede imploras ao desperdício
Só és santuário profano de outra razão
A tua liberdade é uma egolatra prisão
Nas deploráveis molduras da tua hipocrisia
Fardo dos erros de tua logica vazia
Bobagens vorazes da falsa sabedoria
Dessa carga de palhas a loucura consome
Pois no leito de todas vergonhas,
O teu coração dorme

Clavio J. Jacinto

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Sobre Melancolia


Sobre  Melancolia

 As vezes nosso coração mergulha numa ausência de alegria. Algo difícil de expressar, como se fosse uma estação oca, sem sentido, onde nossa alma arrasta-se levando consigo pesados grilhões espirituais. Nosso coração torna-se pesado, há uma dor invisível e cruel, que lateja no fundo do nosso ser, é difícil de entender, porém essa é uma experiencia clara dentro de nós. A melancolia é como uma ancora que serve apenas para estacionar nossos lamentos numa tempestade. Nossa vida passa por momentos assim, onde o sentido parece se perder da subjetividade. Nessas horas precisamos revolver todos os entulhos existenciais, para encontrar aqueles momentos alegres, perdidos no fundo de um mar de tristeza, pois ao encontra-los, sute um efeito muito bom, é como se estivesse num mar de lama escura sobre densas nevoas, mas com os braços estendidos no fundo achasse uma lampada a acesa e agarrando com as mãos, trouxesse essa luz a tona, para iluminar a nossa face e dar direção aos nossos olhos.

Clavio J. Jacinto

Fome em Bengala




Na tempestade dança as gotas de teus choros
Como lâmpadas amortecidas por um grito infante
Como relvas secas em espinhos recalcitrantes
Perpetuadas pela falta dos grãos que abençoam o pão

E que deveras tristes vagas de sois escuros
Em tormentos nas favelas de estômagos vazios
Como ermo em palhas famintas submersas no frio
Deixem a fúria lamber esses labios verdejantes

Que em desespero tais vidas não saciadas
Que consagram  o pó lambendo a calçada
Pois de uma mó a pedra se seca na imensidão
Numa capa de desventuras nos cais da assolação

Que chora infante em peito sem leite
Pois na urgência  do medo em breu enfeite
As chagas da barriga e o osso na pele
Que das angustias de tantas ânsias expele

Aquele urro num amontoado de túmulos fingidos
Onde cada esqueleto se apega num triste abraço
Para de ultimo suspiro uma fatia da terra nos braços
Deixar a terra e um paraíso de montes fugidios.

CJJ



Asfixia




Desde ódio jaz grave som que exaspera e destila
Nas camadas atmosféricas do grito de guerra
Das portas quebradas nos sertões da eterna terra
Que aguda dor em prantos não consigo respirar

As demências da raiva que polui o meu  ar
Ai de mim, ofegante,  em luta que eis  de suspirar
Pois a fumaça da arma e da batalha é a trama
Que expira e aperta meu fôlego em um drama

Quão pobre meu ser que “non sense” se desespera
Que na falta do oxigênio se debate flutuante  na dor
O ar do amor que se desfaz nesse temível  temor
Nas caladas e antros do vil nevoeiro que tudo dilacera

As andanças da alma crua na sega dessas tensões
De raiva e a ira nas crostas dessas perpetuas  dimensões
Dos homens  ferozes com corações quebrados e feridos
De outros contaminados pelo ódio na alma  inserido

Qual língua de fogo sagaz que a tudo  devora
A parte intima do amor que é totalmente  consumida
Nas brasas da violência que engole as virtudes da vida
Eu tento respirar a índole dos penhascos humanos

Mas que em fios de fabulas eu nem  acredito
Ainda que a caridade seja pra tantos um mito
Meus  pêsames a mim mesmo nessa forte tensão
Desse caustico respirar dessa dura inquietação

Que deveras fuga na noite de São Bartolomeu
Quem poderia ter sido no breu de aço ceifado era eu
Mas corro ofegante nessa intensa  encenação
O ar que respiro nessa batalha que me envolvem

E que diria mais, se tão cansado estou
Por águas profundas minha alma peregrinou
Agora que o descanso da fadiga feroz chegou
Já não preciso da tristeza, preciso de esperança



CJJ

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Castelo de Estrelas



Ai, ai, é o drama das estações das guerras
A arma que sujou as mãos infames de caim
Elas também apontam pra mim
Como se todas as estrelas se unissem no céu
Palácio de um arqueiro se formasse nas nevoas

É o mundo e suas contradições que abrigam
No cenário que das barbáries bélicas, proclamam
Nas calamidades da vida essa encenação
Muitos homens com o fio da historia tecem
A tapeçaria das epopeias, fundamentos da civilização

Nasci nesse mundo e me aproximo
Do campo da batalha que se chama terra
Nesse retumbar de canhões de guerra
Onde a morte passeia e dança de luto
Do parto eu lamento, mamãe me veste de luto

Das fantasias de sonhos que da alma carece
Vem as vias das vaias e choros de quem perece
Mas estou aqui contigo meu grande amigo
Como sarças e arruda, açafrão e bendigo
Nas acácias e nas bétulas e o grito de bem vindo

Sois homens como eu sou mais humano
Dentro de mim esse orgulho mais tirano
Arremessa pra fora a marcha de minha dormência
Dessa que dá pêsames e ri da vossa inocência
Sou homem recém chegado nesse mundo

Mas que me assento em sombras frugais
Em desertos charnecas e telhado de avencais
Pântanos e areias movediças coloridas
Dando grito de abertura, bem vindo a vida
Teu é o aço que faz a existência ser mais dura.

E que nas luzes natalinas de final de ano
Que enxuga as lagrimas do réu que sou
Mal cheguei e vejo a dissolução do amor
No palco belo que as vezes transcende horror
Então o surto de um eco que me desperta


És homem? fica pois em tudo alerta
E vê....


Clavio J. Jacinto

Postais da Aurora Perdida





Ouço o clamor da calamidade entre as grades
De Espinheiros que vertem aromas de vendavais
Em palácios vertidos em palhas e cravos cortantes
Num retoque entre além próximo e mui  instante
Homens que perdem o palco da vida em um cais

Mulheres e crianças chorando  em encenação
Na batida do ritmo da vida do mundo que pulsa
Os vaus de sangue e a triste historia da civilização
De ódio e destreza na violência da adâmica  petição
Onde os murmúrios caçoam das fabulas da repulsa

Tenho a leve  impressão que as harpas são tocadas
No breviário de um mudo que pede a voz de outro
Emprestei a minha que a foice da ceifa sempre acalenta
Desse sentimento tão amargo que me deixa paralisados
Pouco a pouco perdido na ala dos outros  desesperados

Como épico de um jogo moral  que se aproxima
No tóxico horror e a fumaça que verteu  de Hiroshima
Estendo a mão para uma criança vital que chora
Não grite infante, acorde! não estou indo embora
Estou nesse triste cenário da vida, apenas chegando...

Clavio J. Jacinto

sábado, 27 de outubro de 2018

Galáxias psicodélicas




Ilusões coloridas se transformam em luzes
Poções borbulhantes em bolhas de emoções
A loucura amordaça a alma em grilhões
Como ébrios sem ruas, foragidos da noite escura
Do céu da mente miragens  fabulas mirabolantes
Concorrem a vasta algema e o pó do cheiro da morte
Gangorras de gelos e doçuras das mais nuas  ilusões
Um oceano de falsa doçura e caudalosas decepções
No mundo dos neurônios em colapsos frugais
A fabula nociva de vão prazeres sem teto e  chão
Flutuantes imagens  e o desterro das cores fractais
Na boca que traga alma aos vales medonhos e abissais
Dos mirantes portal  da loucura o gás da lua se dissipa
Mercúrio fosforescente  nas favelas da mentira
Onde desabrocham inteiras estrelas caídas das mãos
A psicodélica guerra do engano na foz de destruições
Que deveras tonto e arguto com o cálice do psico-armagedom
Essa é a hora do assombro, o espectro da perturbação
Cai as vaias e risos psicotrópicos de céu sem luzes, escuridão
Nas paragens sombrias da escravidão e suas matizes da assombração
Reverbera teus “ais” nesses universos caídos sem a consolação
Porta do Hades e abertura que saiu o sinistro Aiwass
Corsários em nuvens e algemas das funestas dores
Porta do vicio da vergonha e todos cruéis dissabores
Todo o cárcere desse cosmos se desaba em dores
No apagar das fantasias essa má e terrível entropia
Do céu da boca infesta o efeito da  violenta loucura
Nessa senda fúnebre a lapide que traga é mais dura
Do vicio que arruína a lama na profunda ilusão
Sem juízo e perdido, pobre alma, meu Deus! Viveu em vão

Clavio J. Jacinto

Trevas

Não insista em mostrar a luz, a quem rejeita e difama, em um duro coração obcecado, insistindo em permanecer com os olhos fechados para continuar adorando e servindo as trevas da própria ignorância.

C. J. Jacinto

Laogai




Quando a aurora da esperança  se foi
Em arrozais e águas das montanhas fugi
Pois é tenebroso o caminho dos vales
Nas salivas de um bárbaro me assustei
Quão medonhas são essas torturas
Do asco do ódio a raiva ressuscitada
Dantescas feridas da alma o clamor
Fendas na carne que do caliginoso flagelo
Perde-se nos antros a despedida do belo
Das arestas da vida oh quanto pânico
Dos ferozes açoites de um brado tirânico
Do Laogai o pavor em voraz padecimento
Repugnante campo de hedionda calamidade
O confisco do bem dessa humanidade
O semblante do padecido nas amarras feiúras
Do céu clama o orvalho da brandura
Mas que dessa plebe destruída nos açoites
Que das malignas garras dessa avessa noite
Homens gritam na penúria agonizante
Os camaradas injetam a flama atroz constante
Das forças das trevas e das canduras minada
Que explode nessa raça adestra no chicote vil
Que dos braços de ferro de tantas camaradas
Refaz-se mil sombras a nenhuma compaixão
Da fantasmagórica ira e o abominável fanatismo
Sai das prisões e campos de concentração
Pra semear nas paginas dessa historia
Que o homem é por fora, o que guarda no coração

CJJ

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Corsário das Vaidades


Treme o mar encapelado e a nau falsa geme
Se de fardos se escamoteia as peças de artilharias
Como vagos canhões frouxos e muitos fardos
A carga inútil das vaidades desses homens

Que das pompas de um vão ingrato orgulho
Em silvos de ventos e apólices de entulhos
Quais pergaminhos rasgados de pêsames vãos
A vaidade em laços negros e acenos de mãos

Bem vindo é o inútil que pesa a vida
Fardos de bagagens nas orlas de uma existência
Como cego a espreita no fundo vil da carência
Da fome de querer os aplausos dos mortos

Eis que das vãs bagagens os sacos de silício
Dos solos imaginários e flutuantes edifícios
Que a opulência alimenta na voraz luxuria
De piratas , a farsa e o percurso da penúria

Quão pesado é carregar anseios e vaidades
Mais terrível ondas de águas de temeridades
O flanco de areia e ilhas de paixões mortais
As colunas de tantas ilusões são mais colossais

Que em barbáries, as colinas e naus vertentes
Que nas fabulas embriagadas ilude tanta gente
Nesse motim, me livras, oh vento que sopra norte
Nesse corsário crasso que penaliza própria morte

Que de uma fuga voa como gaivota á proa
Que de carmesim o rosto febril mais desbotoa
Nas janelas de uma arca que se abre e atiça
A fugidia alma nas areias movediças

Na rocha o farol alumia e abrigo estandarte
Nessas pedras que de apriscos, se faz combate
Nas ventanias e canhões que de mim retumbam
Pra perfurar os cascos e pérfidos corsários afundam...

CJJ

Buchenwald




Das colinas de Ettesberg ouviu-se um grito e  estrondo
Tão medonho quanto a lama assustada na panaceia
Um reduto de gemidos sombrios e devassa gargalhada
De medos e opróbrios de uma alma descongelada

As fossas de um kamikaze em pó de carbono morto
Nas retortas de um pobre mendigo que rasteja no vento
Entre fosseis de amor morto que jazem no relento
Que os odres da tortura e violência cravam na carne alheia

Quando o sol perdura em nuvens de tempestade
No apogeu de uma fêmea que assombra por tanta maldades
Eis que de sinistras vozes ecoa o vil e atroz pulsar
De quem suga a vida para escoá-las nos charcos do absinto

Da eira seca  das dores a palha mais se incendeia
De vassouras intrépidas e cães famintos que devoram areia
Um riso sarcástico pela famigerada dor inflama
Uma rosa negra que desabrocha na crueldade humana

Ai  todos esses infantes nos montes,  que mais choram
Que laboram na manutenção das espadas afiadas e ingratas
Na forja de um desespero que distribui os camaradas
Desses  insólitos, em dureza fúnebre que não sentem nada

Não clama e por si a foz de gritos tanto que agonizam
Em mãos de bruxa infame no despertar maligno
Sai em busca de sarcasmos no âmago do mais real  terror
Assim nasceu de pérfida mulher, a penada alma do pavor.


C. J. Jacinto

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Terra de Node




Andavas varrido, correndo como vento fugitivo
Com o coagulo manchando as palmas das tuas mãos
Nos pêsames ardentes pois não serás mais impoluto
Deixastes para trás as os prantos de uma mãe em luto

Que a terra se embriague possante, com teus passos
Que nas noites caladas borbulhem teus fracassos
Porque a culpa é a mancha que se apega a tua mão
E não descansa perpetrando o susto no teu  coração

Como carcaça a erva seca assovia entre as montanhas
Como vasos sem fundo diluídos nos teus espantos
Cântaros fantasmagóricos que afugentam a face fria
Na terra de Node em rios secos e nas campinas vazias

Que em teus filhos contastes tão grande assombro
De ódio deixastes corações mais lesos
Com a carga inalterada, sofres os teus parvos pesos
De atos atoleimados na terra de Node teus escombros.

Apenas a insensatez  sustenta a tua pobre ira
Os espinhos dilaceram a vida  do teu coração
Pois que tomando eles para ferir os outros
Acabas ferindo as tuas próprias mãos.

Assim entre as nuvens secas da tempestade falida
Cantaste  o lamento eterno por ter tirado a vida
Entre ninhos de serpentes brincasse de esconde-esconde
Fugitivo perdido em Node,  não sei mais onde...


Clavio J. Jacinto


terça-feira, 2 de outubro de 2018

O Jardim de Rose Pizem




(Sonhei)
Que as mãos das pétalas eram mais suaves que ódio
Que a luz do luar tímido era um balanço para os anjos inocentes
Que as flores não temem desabrochar em sepulcros
Que as estrelas não morrem de medo da matéria escura

A charneca sustenta o lírio e agasalha a rosa
O aroma do mel silvestre sustenta as cores do arco celeste
Que mais do que perdão precisamos amar depois de perdoar
Que o carinho é o sustento que fortalece a alma da criança
O ouro polido não aquece as chamas de uma felicidade ferida
Os que vivem depois do parto precisam ser alimentados pelo amor

Entre as acácias ouço o sopro da brisa norte
Com o coração cheio de amor, sorrindo, posso encantar o mundo
O que diria mais?
Fui erguida nas campinas verdes dos meus choros
Que as bonecas silenciosas testemunhem de minha  pureza
Como a Andrômeda  distante ilumina meus sorrisos
Então fui ceifada como a erva pura e pisada por um soldado de mármore
Nos tentáculos do acido frio fui retorcida como aço sem alma
E depois de sonhar
(Não sobrevivi)

Clavio J. Jacinto

Niilismo


Niilismo


Que sentido tem a vida (?) , pergunta o louco
Na grama do espirito da relva, assolado grita
Desespero que vive osculando a melancolia
Nas tardes chuvosas de uma primavera fria

No ai de muitas dores colecionáveis
Por vias de aflições portáteis
Nos cais dos gemidos e bussolas quebradas
Sem direção assola o porto a escolta armada

De papeis toscos paredes mimadas
Os rubis quebrados na bucólica calçada
Tapetes persas tingidos de noites sem estrelas
Que ressalvas fazem as sinfonias mais belas

No campo os pirilampos perdidos a esmo
Tudo sem nós o vácuo em vós mesmos
A plebe que em revoadas no mar da angustia
Perece entre cassinos de azares a vida.

Quem boicota a sabedoria tão triste (?)
Quem não sabe agora nem porque existe (?)
Que chora e mais chora a toda dó
Como versos polidos na pedra e na mó

Achaste a doidura nessa enfase  do nada (?)
Nas estancias das lagrimas, naus aparelhadas
Como penas flutuantes que o vento carrega
Do finado a língua que o céu da boca se apega

Que tristeza real e alegria fictícia
Dos artifícios de fogos e lampejos falidos
A vida se escoa pelas mãos do tempo
Sem direção, sem causa, sem proposito e sentido

Que do orbe escuros fundiu a esperança
Como odre de vinho nas semelhanças
Uma bela luz que floresce e alumia
Na tumba da vida,  austero raiar luzia

Os  sonhos flutuantes abriram a janela
Do lado de lá a paisagem agreste mais bela
Na poesia do luar e o sertão de montanhas
Ouvi o consolo de um ancião de cocoras

Que dizia em sacos de silícios e perfumes
O céu da manhã e o esplendor do lume
Que a vida tem sentido quando amamos
E ao seio do labor do amor retornamos

Clavio J. Jacinto

Guido e Ina





Atados um ao outro nessa infâmia
Num epitáfio vivo costurado clama
A mãe que tão nobre, vê e ainda  ama
Aquelas vidas duplas que se derrama
Quem vê tudo isso a raiva inflama
Como um trovão que o susto chama
Com o medo vil que a si difama
Banidos ocos a voz mais declama
O medo vil que a si difama
Imoral ato que afoga a própria lama
Bane ao abismo seco do Atacama
Que horror  dos ossos a mim reclama
Imagino a  cena e o hálito exclama
O furor de quem odeia no escuro a flama
Quem deveras fugir de tão aberrante difamação
Que de tão insensível e cruel ação
Vai e chora o orvalho da estação
Mãe que suspira em vulnerável coração
Ciganos adormecidos no campo da eliminação
Borbulha a tristeza como bolha de sabão
Ver dois filhos entrelaçados entre pés e mãos
Vai e clama em resiliencia a indignação
Mengele açoita os olhos da aberração
Da dor e feridas da agulha que é um arpão
Tais pardais se assustam com a encenação
Chora mãe querida e procura a solução
Injeta a fria morfina que estranha operação
E morre o duplo em tão triste anulação
Atados um ao outro nessa infâmia.

Clavio J. Jacinto