segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
A VIAGEM DE UM INFANTE
A Viagem de um Infante
Nasci em choro sacro
Na rua de trilhos e pedras de pontas
Na parte de cá do mundo
Sozinho no berço e na busca da burocracia
Encontrei na vida, na infância
Queria ser grande e não podia
Nem sequer liberto pra viajar na noite fria
Numa prisão, um berço de grades
Que crime cometi por tanta barbaridade?
Queria tocar as breves estrelas,
Arrancar as flores do jardim, diluir a aquarela
Pular num salto imortal, a janela
Mas grades colocaram em todas elas
Puxa! que viagem acesa em lampiões
Paredes de fumaça, ocultando os clarões
Eu infante nessa desprezível burocracia
Não poder subir na montanha
Pra apagar a luz do dia
E, na madrugada na noite rebelde e vazia
Acordado e atordoado, pelas vozes do radio antigo
Tentando abrir o mistério de gentes encaixotadas
Como podem viverem la dentro?
Ah! sou infante não sei de nada
Que coisa! limitaram meu entendimento
Será que vou ser assim a vida inteira?
Pensava e repensava, subindo as goiabeiras
Matando a fome e explorando elas de brincadeira
Um dia disseram-me que tinha crescido
Barba no rosto, não mais tomava banho de bacia
Acho que acabou aquela burocracia
Agora viveria livre pra sempre das grades
Ainda que daquele tempo tinha tantaa saudades
Então na minha cara libertação
Pulei de alegria cerrei as mãos
Tinha a minha preciosa e destemida esperança
Sou livre, quero voltar a ser criança
Mas os humanos mais antigos, vozes que eu temia
Me falaram, que pra adulto, tem uma burocracia
Cerrei os dentes, protestei, quero voltar a viver
Mas me disseram, não tem volta
Depois da infância, só resta viver mais um pouco
e envelhecer...
Clavio J. Jacinto
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