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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

O Tear de Névoas

 

 


O Tear de Névoas




C. J. Jacinto




Dois pequenos reinos existiam ao sul do meridional norte, eram opostos em valores, o primeiro chamava-se pradator e era um pequeno campo com alguns prados e um rio, chamado Pisio, que irrigava todos os seus contornos. O rio serpenteava todo o Reino e então mergulhava para o profundo da terra, assim surgia e assim terminava seu curso sobre Pradator. O reino era cheio de flores, videiras, macieiras, cerejeiras, castanheiras, e seu rei, um homem cheio de virtudes.


O outro reino é um território pantanoso, cheio de árvores mortas, um lugar onde as Névoas repousam como se fossem lápides de sombras. Ali também um rei reinava, um homem cheio de orgulho, inveja e ódio. O nome do reino era Lutum, um lugar que hospedava a lama e or orgulho das sombras. Sei rei era notável por sua decadência moral e suas tendências egoístas. Aliás, basta que um homem transborde em orgulho para que as sementes de todas as outras malícias cresçam dentro do proprio coração.


Os dois reinos eram singulares, não havia súditos, os reis eram solitários, viviam numa solidão pessoal porem o coração era povoado de sentimentos pensamentos e desejos, mas no caso do rei de Pradator, ele cultivava o campo, assistia o comércio das borboletas e abelhas, transportando pólen, as formigas carregando pedaços de folhas, havia a colheita de amoras silvestres, as uvas e a fabricação do vinho no lagar e o por do sol seguida da noite cuja escuridão, empurrava as estrelas para trás dos prados enquanto os pirilampos passeavam pra lá e pra cá.


O rei dos pântanos vivia escondido nas sombras e nas Névoas,  aquele lugar parecia ser o jazigo de uma noite eterna.
O contraste dos dois mundos, tão perto e tão distantes,  e cada rei satisfeito no seu reino. A apreciação do mundo exterior é antes um reflexo da vida interior.


Mas um dia, emergiu possante os tentáculos da inveja no coração do rei dos pântanos, sua revolta se deu ao subir em uma das árvores mortas e ver os prados floridos e as florestas de castanheiras , ipês amarelos e as videiras que revestiam algumas pequenas colinas de Pradator.


Ele armou-se com sua lança de ossos e revestiu-se com sua armadura rústica de couros. Seu intento era invadir e matar o rei de Pradator para tomar posse de tudo e anexar ao seu pântano.
A notícia, porém chegou aos ouvidos do Rei de Pradator que ouviu os pensamentos que o coração do rei do pântano dizia  e se preparou para o iminente confronto, tomou sua lança de prata, vestiu a sua armadura de bronze e calçou seus sapatos de cobre. Os pássaros cantavam tristezas, nuvens escuras começaram a cobrir o céu azul de Pradator, as abelhas e as borboletas se esconderam, as flores tomaram seus perfumes e as árvores frutíferas esconderam seus frutos. Tudo parecia se retrair perante a presença sombria das intenções do rei do pântano. Um coração que se escurece pela inveja torna-se uma alma miserável, essa era a condição do rei de Lutum,  assim o conflito era iminente e inevitável.


Os dois reis se encontraram no vale de Arkon, território de Pradator, o rei do pântano era o invasor e o outro o defensor.
Infringiram ambos, ataques, mas o rei de Pradator perdeu sua lança de prata, o que segundo a lei dos nobres, era o perdedor, perder as armas era considerado como perder a própria vida, da mesma forma como entendemos hoje que perder o ânimo de viver e perder a gratidão pela existência.


O rei de Pradator então saiu cabisbaixo da batalha, entregou o reino ao vencedor e desceu para o abismo dos mares.
Solitária alma no fundo de um oceano de prantos, ali estava o rei derrotado, porquanto o vitorioso rei de Lutum com sua lança de ossos feria os carvalhos e as videiras, as abelhas e as flores choravam, as estrelas se escondiam por trás dos prados, as borboletas se refugiam nas penhas,  a terra sangra, o sofrimento é o fim do mundo.


O rei do pântano toma um pergaminho, e vai narrar sua vitória, absurdo obsoleto que os inimigos dos fatos escrevam a história, a vitória é apócrifa quando a maldade deseja descrever sua luta insólita contra a bondade.


Acaso podem as trevas dominar a luz? As demandas da vida real ensinam que elas subsistem na ausência dela.


Pradator sofreria uma metamorfose inversa, da matriz de todas as estações se transformaria em um pântano sombrio? Aos olhos de quem não contempla as flores toda a sombra parece uma obra de arte, e se a luz revela a alma da beleza, a escuridão apenas esconde todas as suas formas. Só uma alma doente pode deleitar-se com a mentira, pois o homem bom sempre sofrerá quando ela reina sobre os outros homens.


O rei de Pradator precisa reagir,  e frente à carcaça de um navio que jaz na inércia de um naufrágio súbito,  como uma estrela do mar, quer seguir rente a praia, e como o sol, quer punir a madrugada fria com a luz possante do amanhecer, a aurora e a ressurreição de uma tarde que dormiu no túmulo da noite.
É preciso ter coragem, pois em dias tenebrosos a coragem é a virtude que abre o caminho da esperança, a coragem é uma grande virtude que não cabe em corações mesquinhos. O rei de Pradator tinha um coração nobre, e reage ante a situação, entra no seu reino devastado, encontra a sua lança de prata jogada no lamaçal das lágrimas das nuvens. Ele toma a lança, procura o seu inimigo, e ao encontrá-lo grita em desafio, pois vai enfrentar novamente o rei das trevas o senhor de Lutum.


O rei do pântano se surpreende pela coragem do retorno do seu adversário, e com uma risada sarcástica avança furioso contra o rei de Pradator. Porém a luta tornou-se acirrada, e finalmente o rei do pântano recebeu um golpe fatal, sua lança caiu longe, o rei vitorioso correu até o artefato de ossos, e tomando uma espada, despedaçou-a completamente, o rei do pântano soltou um grito agonizante, correu para o seu trono e afundou na lama fétida do seu obscuro reino lamacento. Lutum é o luto da morte eterna


Répteis e bichos peçonhentos imergiram na lama com ele, naufrágio de todas as maledicências, mergulho de todos os assombros.


O pântano começou a secar-se, naufragava para o abismo de onde saiu, pássaros de Pradator começaram a  levar sementes ao solo ressequido do reino morto, beija flores molhavam suas asas no rio Pisio e iam até lá para baterem suas asas molhadas e irrigar a terra seca do jazigo das lamas ressecadas,resquícios de um reino que se foi,  e o deserto floresceu, o rei de Pradator anexou todas as terras conquistadas ao seu reino, as borboletas saíram de seus esconderijos, a vida voltou ao normal, a luz triunfou sobre as trevas, a beleza sobre a feiúra, a verdade sobre a mentira.
Até hoje, Pradator é um reino de força, crianças vieram para habitar no reino bem aventurado, Pradator tornou-se uma referência na importação de virtudes como coragem e resiliência, e através da magnífica história do seu reino, cabe aos historiadores falarem sobre o poder do amor sobre a inveja, e da humildade sobre o orgulho.


Extraido de:  Contos Ordinarios e Extraordinarios

 

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