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O Tear de
Névoas
C. J. Jacinto
Dois pequenos reinos existiam ao sul do meridional norte, eram opostos
em valores, o primeiro chamava-se pradator e era um pequeno campo com alguns
prados e um rio, chamado Pisio, que irrigava todos os seus contornos. O rio
serpenteava todo o Reino e então mergulhava para o profundo da terra, assim
surgia e assim terminava seu curso sobre Pradator. O reino era cheio de flores,
videiras, macieiras, cerejeiras, castanheiras, e seu rei, um homem cheio de
virtudes.
O outro reino é um território pantanoso, cheio de árvores mortas, um lugar onde
as Névoas repousam como se fossem lápides de sombras. Ali também um rei reinava,
um homem cheio de orgulho, inveja e ódio. O nome do reino era Lutum, um lugar
que hospedava a lama e or orgulho das sombras. Sei rei era notável por sua decadência
moral e suas tendências egoístas. Aliás, basta que um homem transborde em
orgulho para que as sementes de todas as outras malícias cresçam dentro do
proprio coração.
Os dois reinos eram singulares, não havia súditos, os reis eram solitários,
viviam numa solidão pessoal porem o coração era povoado de sentimentos pensamentos
e desejos, mas no caso do rei de Pradator, ele cultivava o campo, assistia o
comércio das borboletas e abelhas, transportando pólen, as formigas carregando
pedaços de folhas, havia a colheita de amoras silvestres, as uvas e a
fabricação do vinho no lagar e o por do sol seguida da noite cuja escuridão,
empurrava as estrelas para trás dos prados enquanto os pirilampos passeavam pra
lá e pra cá.
O rei dos pântanos vivia escondido nas sombras e nas Névoas, aquele lugar
parecia ser o jazigo de uma noite eterna.
O contraste dos dois mundos, tão perto e tão distantes, e cada rei
satisfeito no seu reino. A apreciação do mundo exterior é antes um reflexo da
vida interior.
Mas um dia, emergiu possante os tentáculos da inveja no coração do rei dos
pântanos, sua revolta se deu ao subir em uma das árvores mortas e ver os prados
floridos e as florestas de castanheiras , ipês amarelos e as videiras que
revestiam algumas pequenas colinas de Pradator.
Ele armou-se com sua lança de ossos e revestiu-se com sua armadura rústica de
couros. Seu intento era invadir e matar o rei de Pradator para tomar posse de
tudo e anexar ao seu pântano.
A notícia, porém chegou aos ouvidos do Rei de Pradator que ouviu os pensamentos
que o coração do rei do pântano dizia e se preparou para o iminente
confronto, tomou sua lança de prata, vestiu a sua armadura de bronze e calçou
seus sapatos de cobre. Os pássaros cantavam tristezas, nuvens escuras começaram
a cobrir o céu azul de Pradator, as abelhas e as borboletas se esconderam, as
flores tomaram seus perfumes e as árvores frutíferas esconderam seus frutos.
Tudo parecia se retrair perante a presença sombria das intenções do rei do pântano.
Um coração que se escurece pela inveja torna-se uma alma miserável, essa era a
condição do rei de Lutum, assim o
conflito era iminente e inevitável.
Os dois reis se encontraram no vale de Arkon, território de Pradator, o rei do pântano
era o invasor e o outro o defensor.
Infringiram ambos, ataques, mas o rei de Pradator perdeu sua lança de prata, o
que segundo a lei dos nobres, era o perdedor, perder as armas era considerado
como perder a própria vida, da mesma forma como entendemos hoje que perder o
ânimo de viver e perder a gratidão pela existência.
O rei de Pradator então saiu cabisbaixo da batalha, entregou o reino ao
vencedor e desceu para o abismo dos mares.
Solitária alma no fundo de um oceano de prantos, ali estava o rei derrotado,
porquanto o vitorioso rei de Lutum com sua lança de ossos feria os carvalhos e
as videiras, as abelhas e as flores choravam, as estrelas se escondiam por
trás dos prados, as borboletas se refugiam nas penhas, a terra sangra, o
sofrimento é o fim do mundo.
O rei do pântano toma um pergaminho, e vai narrar sua vitória, absurdo obsoleto
que os inimigos dos fatos escrevam a história, a vitória é apócrifa quando a
maldade deseja descrever sua luta insólita contra a bondade.
Acaso podem as trevas dominar a luz? As demandas da vida real ensinam que elas
subsistem na ausência dela.
Pradator sofreria uma metamorfose inversa, da matriz de todas as estações se
transformaria em um pântano sombrio? Aos olhos de quem não contempla as flores
toda a sombra parece uma obra de arte, e se a luz revela a alma da beleza, a
escuridão apenas esconde todas as suas formas. Só uma alma doente pode
deleitar-se com a mentira, pois o homem bom sempre sofrerá quando ela reina
sobre os outros homens.
O rei de Pradator precisa reagir, e frente à carcaça de um navio que jaz
na inércia de um naufrágio súbito, como uma estrela do mar, quer seguir
rente a praia, e como o sol, quer punir a madrugada fria com a luz possante do
amanhecer, a aurora e a ressurreição de uma tarde que dormiu no túmulo da
noite.
É preciso ter coragem, pois em dias tenebrosos a coragem é a virtude que abre o
caminho da esperança, a coragem é uma grande virtude que não cabe em corações
mesquinhos. O rei de Pradator tinha um coração nobre, e reage ante a situação,
entra no seu reino devastado, encontra a sua lança de prata jogada no lamaçal
das lágrimas das nuvens. Ele toma a lança, procura o seu inimigo, e ao
encontrá-lo grita em desafio, pois vai enfrentar novamente o rei das trevas o
senhor de Lutum.
O rei do pântano se surpreende pela coragem do retorno do seu adversário, e com
uma risada sarcástica avança furioso contra o rei de Pradator. Porém a luta
tornou-se acirrada, e finalmente o rei do pântano recebeu um golpe fatal, sua
lança caiu longe, o rei vitorioso correu até o artefato de ossos, e tomando uma
espada, despedaçou-a completamente, o rei do pântano soltou um grito
agonizante, correu para o seu trono e afundou na lama fétida do seu obscuro
reino lamacento. Lutum é o luto da morte eterna
Répteis e bichos peçonhentos imergiram na lama com ele, naufrágio de todas as
maledicências, mergulho de todos os assombros.
O pântano começou a secar-se, naufragava para o abismo de onde saiu, pássaros
de Pradator começaram a levar sementes ao solo ressequido do reino morto,
beija flores molhavam suas asas no rio Pisio e iam até lá para baterem suas
asas molhadas e irrigar a terra seca do jazigo das lamas ressecadas,resquícios de
um reino que se foi, e o deserto
floresceu, o rei de Pradator anexou todas as terras conquistadas ao seu reino,
as borboletas saíram de seus esconderijos, a vida voltou ao normal, a luz
triunfou sobre as trevas, a beleza sobre a feiúra, a verdade sobre a mentira.
Até hoje, Pradator é um reino de força, crianças vieram para habitar no reino
bem aventurado, Pradator tornou-se uma referência na importação de virtudes
como coragem e resiliência, e através da magnífica história do seu reino, cabe
aos historiadores falarem sobre o poder do amor sobre a inveja, e da humildade
sobre o orgulho.
Extraido de: Contos Ordinarios e Extraordinarios
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