Pages

domingo, 8 de setembro de 2024

AS ROSAS DO PEREGRINO

 

AS ROSAS DO PEREGRINO

 

 Um peregrino percorria certa estrada empoeirada, aquele imenso deserto sem nome, onde os pés calcavam o solo moribundo de uma terra quase sem forma e vazia. Cheia de antros e sombras de arvores mortas, adormecidas nas saliências de dunas pardas, que projetavam sombras medianas como se fossem pedaços de uma noite fragmentada pelos gritos de pessoas desesperadas.

 Um começo de dia, um recalque no calendário, a soma que se emancipa para projetar milênios, uma calmaria que se quebra por gemidos de ventos perdidos e os passos de um homem coberto de trapos.

Naquele prodigo dia, perdido nas estações, aquele homem vê ao longe um Oasis, se é que podes ser definido como um, pois eram apenas pequenos arbustos envoltos num pequeno e tímido manancial de águas. Ao chegar próximo, ansioso para refrescar-se com um pequeno gole de água, o viajante se depara com uma roseira, e tinha apenas três rosas, um mistério, enigma escondido no caos, tendo por testemunha, as estrelas adormecidas por causa do meio dia.

Uma rosa era branca, outra era negra e a outra era azul.

Sentado sobre uma pequena pedra, absorto naquela imagem transcendental, as três rosas como se fossem as três marias estelares, três flores magníficas, libertando um aroma doce, a identidade de uma primavera perdida numa civilização de pedras e catástrofes, o caustico calor de um verão infinito, as rosas permanecem entre a fragilidade e a força, como se a humildade tivesse o poder da permanência em um mundo inóspito, saturado pelo orgulhos dos monturos secos, recalcados numa aridez tão íntima, que a terra permanecia assombrada por todos os sustos.

O peregrino colhe as três rosas, e ele entende que elas nunca irão murchar, florescer no meio da tragédia ou brilhar em meio a escuridão, é um sinal de que a superação se adquire através da resiliencia, ele coloca as flores com muita delicadeza dentro de seu alforje, e prossegue seu destino, sabendo que sua missão na vida é entregar cada uma das rosas, para as respectivas pessoas que durante sua viagem encontrar.

Assim, prossegue sua jornada, e então começa a encontrar pessoas que aparecem na estrada. Ele encontra um orgulhoso, e olhando para suas vestes e sua face, nota a arrogância no olhar, pois despreza o peregrino vestido com trapos, roupas que parecem com pétalas que passaram por um moinho de espinhos.

Mais a frente encontra o arrogante, que olha para o peregrino com um desprezo ainda maior. O peregrino apenas olha meio desconfiado e prossegue, na esperança de encontrar alguém que possa dar uma rosa.

Ele vê ao longe um homem de branco com uma pequena mala na mão, está á pé, anda rápido e com um olhar sério, é um medico, ele precisa atender um doente com uma medida muito grande de urgência, sua projeção mental é toda concentrada em salvar aquela pobre alma moribunda, ele vê o peregrino, para e olha para o estado em que se encontra aquele viajante. E o peregrino sorri estende a mão e dá aquela rosa branca.  O médico sorri, aceita o presente, sabe que naquela pureza da rosa há um poder de alegria e satisfação, agradece e prossegue seu destino. O peregrino acena e diz

- Compartilha as pétalas com teus companheiros e com os trabalham no Corpo de Bombeiros.

Mais a frente o peregrino encontra uma professora, ela está carregando uma mala grande, cheia de livros, que fardo pesado! carregando dicionários e enciclopédias, ela tem uma face que revela cansaço, mas ainda consegue sorri. O peregrino estende a rosa vermelha para ela e diz:

- Essa rosa é o símbolo do sacrifício, ofereço-te de presente.

 E ela manifesta uma expressão ainda mais feliz, pois sabe que naquela linda flor há o símbolo do sacrifício pela causa de uma missão tão nobre. Então ela agradece e prossegue seu destino.

Mais a frente, o peregrino encontra um político em um palanque carregando um saco de promessas, um sorriso disfarçado e olha para o peregrino meio assustado.

Sem mais pensar, o peregrino toma a rosa negra e lhe entrega...

 

C. J. JACINTO

 

0 comentários:

Postar um comentário