A Luz no Lado Norte da Praia
Não é possível crer que um caracol estivesse percorrendo as areias da praia naquela tarde ensolarada de primavera. Mas o incrível sempre é uma possibilidade para os que estão abertos aos recursos do universo.
O que atraia o caracol, um caramujo gigante, muito parecido com o africano, era uma luz distante brilhando, como um farol ilhéu ou uma vela acesa em cima de um túmulo em dia de finados.
Arrastando-se pela areia, quente, solta, pequenas partículas de mundos, grãos que pareciam pequenos planetas na orbita da praia, numa jornada íngreme, sem cumes, distante, mas sem quilomentros, a alforria da ansiedade, uma visão distante, um brilho colossal, perdido na penumbra de uma trade que empurrava a luz radiante do sol, pigmentado de sonhos transparentes e o vermelho dos vitrais da primavera, erguidas num céu aberto, movimentado por pássaros e ventos, as nuvens estavam ausentes, o caracol deixa um sulco na areia, viagem intrépida, um assedio que a curiosidade faz, um destino, um propósito.
Não lamento essa odisseia, a coragem do Gastropoda, pois ali vagueia em firmeza como um soldado para a batalham uma conquista visionaria a atração pelos lampejos, línguas de fogo que se move como os filhos do relâmpago, a sombra seria apenas um espectro derramando os resíduos de todas as ausências, o caracol persegue seus próprios pensamentos.
A praia, suas montanhas e o sombreado de suas encostas, ao longe as escarpas do costão e cada vez mais próximo, a luz brilhante, a alma da noite que alumia os olhos dos curiosos noturnos, peregrinos que comem alfajor e dormem n relento esperando o romper de uma aurora que escreve uma nova historia repetindo o pulsar do coração e as lembranças de uma passado.
Mas para o caracol a conquista é uma peregrinação que se associa ao ideal de buscar o que atrai, mesmo que a distancia a percorrer seja um tempo que consuma parte da vida, chegar ao propósito é um fator fundamental para quem tem uma direção definitiva; nisto consiste a vida, pois sem uma direção, a vida torna-se um abismo.
A grandeza da coragem e a insistência é a regra, uma marcha com um senso de ser, e assim, o caracol, na voluptuosa marcha, num destino que parece quase infinito, é tocado pelo testemunho das primeiras estrelas, pontos distantes que começam a aparecer no véu noturno, o céu do firmamento das luzes distantes, intocáveis e enigmáticas. O caracol para por um momento, contempla algumas delas, que parecem pular de alegria numa canção silenciosa feita apenas de movimentos lentos, a rotação da terra.
Mas os olhos se voltam para aquela luz na praia, alguns metros de distancia, apenas, porém tão distantes ainda!
Mas não é o momento de desistir, a conquista está muito próxima, um frio sopra de todos os lados, a escuridão é cortante, a luz está mais próxima, que momento repleto de fantasias, o que será afinal essa luz que cativa caracóis curiosos?
É a meia noite, momento sinfônico, ondas encalham na areia, estrelas do mar adormecem no leito, águas salgadas naufragam como as lágrimas de um rosto empoeirado.
Ali diante do caracol está a luz, uma criança sorridente, olhando para o infinito aguardando o velho pescador, seu pai que está em alto mar e que prometeu voltar em breve, o caracol se alinha ao lado da criança. Ela olha para o caracol e um sorriso inocente nasce de seu formoso rosto. É uma lamparina de querosene, a criança segura firme, aguardando que seu pai retorne antes do amanhecer, e agora ali, entre as ondas e areias, dois seres olham para a misteriosa linha do infinito que se esconde por trás das sombras do mar.
A esperança se fortalece quando alguém compartilha de nossas expectativas.
C. J. Jacinto
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