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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O Recomeço de Todas as Coisas

O  fim do entardecer
Não é o fim do tempo
É o fim do dia

Uma flor que murcha
Não é o fim da primavera
É  apenas o fim de uma estação

Um pirilampo que foi embora
Não é o fim das lampadas
Apenas o começo do amanhecer

Quando as estrelas vão embora
Não é o fim a noite
É a transformação dela em novo dia


 Clavio J. Jacinto

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Imago Pulvis (Imagem do Pó)



1-
Meu adorno é pó seco das campinas
Meu pão vem da alma da poeira
O trigo dourado que dorme no celeiro
Veio do seio da terra que labuta amoras

2-
Sou imagem dos grãos do barro
A  terra é a seda da minha carne nua
Sou feito de lama viva e ressequida
Deposito de todas as emoções metafisicas

3-
A terra nobre sustenta minhas raízes
Oferece flores e perfumes aos lamentos meus
Sou fraco mas a argila é forte
Consegue sobreviver depois de ferido pelo arado

4-
Sou mil pedaços de poeira suspensa
Como uma montanha desesperada num tremor
Meu coração bate forte na face dos tijolos
Um tremor de medo, dentro de mim, um terremoto.

Clavio J. Jacinto

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O Preço do Amor

Andei pelos espinhos do caminho
Ferido no coração, em busca de afeto
Procurei nas salas da noite
Nos antros de uma madrugada

Que o amor merece ser procurado
Não há duvida, não suporto a solidão
Vou entre os valados  e trincheiras
Sofrer solitário de sentimentos, o coração

As pedras cortam a dor do meu ser
Espadas de dificuldades ferem o sentimento
Quão vazia é tarde sem caridades
O vento faz minha alma se secar

Andei  descalço entre pedras, persistindo
Até encontrar ao custo de pérolas finas, esse dom
Ah! o amor é um sentimento muito caro
Porque exige em troca, toda nossa confiança


Clavio J. Jacinto

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Orgulho e Virtudes


Bondade e Maldade


Ignorancia e Fanatismo


Sobre Angustia


Pródigo e Errante



I
O pródigo partiu, levou consigo seu  pobre coração
A alma saturada de desventuras, fel adormecido
Longe, na sequidão da consciência, pensamento infértil

II
O prodigo devasso, enfatuado,  largou a proteção paterna
Num saquitel levou as moedas do coração vazio
Numa festa coroou seu egoismo, liberdade entrincheirada

III
O prodigo cavou um covil, pra em vão pelejar a solidão
Nele, um sepulcro em si mesmo, a fome da saudade do afeto
Prostrou-se diante dos suínos, lambeu a lama, corado chorou

IV
O prodigo foi atingido pelo lampejo da vergonha luminosa
pensou e levantou-se, albardou a sua alma e foi embora
Afetos paternos, metafisicas consolações, consciência restaurada.


Clavio Jacinto

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A Torre (Memorândum)

Erguestes os teus braços inúteis ao céu
Torre de tijolos, cidade pérfida de Babel
Na confusão de quem semeia tantas desigualdades
As penúrias de tuas ultimas palavras e muitas ofensas

Em impias calamidades  e vasto orgulho erguestes
Tão dura quanto o aço da torre Eiffel é a teimosia
As flores mais mortas e o réu entulho de teu pó
Tu que queria usurpar as estrelas e os castiçais

O universo está entrelaçado no fio de um filamento
És a torre que escurece em sombras na noite vazia
Riscos indecifráveis com betume e argamassa fria
Incitastes a peleja humana na comunidade oca

Como uma nau ferida tocando a alma dos fundamentos
Caístes babel! Como um papel transmutado em lixo
Como  mistura de palavras, uma vara ceifada sem dó, derrubada
Ficastes corada, prostrada na tua própria decepção

Pois o vinho do pecado te embriagou nas ruínas
Ai de nós, mortais tão antigos  e breves contaminados
Austeros deformados, na perdição do lucro de teus vicios
Teus tijolos são letras e teus murmúrios frases sem nexos

Não tens poemas exótico, só palavras confusas
Fizestes sufrágio pra naufragar tuas escolhas
Numa confusão de línguas e cambulhada de letras
Um não entendeu a mixórdia do outro desordenado
Para o chão seguiste em perpetuo sono mortal

Para criar nos reinos, eterno conflito desalmado...


Clavio J. Jacinto

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O Conceito do Imaginario

Recolhi nas manhãs do meu faz de conta
Essas perolas celestes do sofrer sem fim
Como as estrelas que fumegam na praia
Pedaços de nuvens luminescentes adormecidas
Um réu sou e condenado, por tão pouco sonhar
Não há caminho mais doido do que o faz de conta
Como o amor que rege o coração no céu vazio
Ou como o inverno que sustenta o frio

Cada rastro riscado no céu e na penumbra
Foi deixado por jatos apressados e flutuantes
Escrevem a loucura das tantas imaginações vãs
De nós pobres homens renascidos na rotina
Um condenado ao sonho perpetuo sou  
Confinado num mar, como tristão da cunha
Colecionador de  grãos de areia e estrelas
Perpetuando a paciência e o sofrer calado

Amo prefácios e as paginas de livros pensantes
As águas das nascentes de um poço sem fundo
Condenado a sonhar, percorro a via dolorosa 
Do faz de conta e das metáforas que o coração cria
Ei de sustentar parábolas e hipérboles nas mãos
Como os mais lúcidos espelhos diante das esmeraldas
Estou cansado, minha alma está tremula e fraca
Os anos são praias, que recolhem-me sem dó...

Clavio J. Jacinto

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A Lágrima de um Sorriso

Vagas páginas da noite vieram em minha alma
Nuvens incompreensivas esconderam as estrelas
Como admirar o  brilho dos olhos das flores?

Escura é essa madrugada tão nebulosa
Como oceano a beira do colapso de uma supernova
Meu coração está suspenso nas névoas
O que será de meu pobre ser cansado?

Eu me lembrava que tinha um fósforo sem vida
Acendi entre as brechas da janela escura
Como um órfão do outono, meu rosto foi revelado
Um sorriso vivo e um colosso lacrimal
Corriam em meu rosto as lágrimas de um sorriso

Mas a flama breve, suspirou e morreu
Sua alma se uniu a minha e corremos pra amar estrelas...

Clavio J. Jacinto

Dez Conselhos Sobre a Vida Prudente

Cada dia vem novos desafios, os confrontos chegam e precisamos sempre tomar pequenas decisões certas, para que o nosso progresso seja mais favorável.

Há uma lição no desabrochar de um novo dia, estamos inseridos nele para caminharmos mais um trajeto de nossa existência

A vida intelectual consiste em pensar e ler bem, mas a sabedoria não pode permanecer sem o exercicio da prudência.

As palavras são como arados, ou elas servem para semear sabedoria ou servem para promover feridas e contendas

A felicidade não consiste de uma satisfação temporal, mas de um sentimento de paz que possa resistir a qualquer adversidade.

Um sábio sempre pode progredir em sabedoria, e isso ocorre pelos degraus da descida na humildade, assim como o vaidoso segue para as profundezas subindo pelos degraus da sua própria exaltação.

Todas as vezes que percebo que o momento é mau, aproximo-me de um bom livro.

As vezes é bem melhor ficar no silencio de uma vida de reflexões do que ficar entre uma multidão sem um destino certo

As palavras que não servem como bisturi para tirar o mal do coração ou que não servem de alimento para a nossa fé, são de pouco proveito para a vida de um homem sabio.

Se não estivermos conscientes das nossas limitações, daremos preço errado a nossa vaidade, se não estivermos conscientes de nossas fraquezas, não daremos o valor correto para os momentos de oração.

Clavio J. Jacinto

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Lirios da Etiópia


A fome infame ceifou tantos infantes
A foice da morte ceifou tantas outras vidas
A terra mais árida, a falência das fontes
O falso pão, a figueira muito mais morta

Uma alma pobre pede o  duro pão
Com pele plácida, põe o rosto no pó
Pois a dor vazia pisoteia o ser vazio
Pedintes em pedaços arrastando a poeira

Clama a jovem, da cor de lírio
Chá de almíscar e balsamo com cravos
Miragem do clima ermo, coração seco
Consigo leva seus ossos, a cruz, o sofrer calado

Terra terrível que não pariu as tâmaras
Sol que tosta o solo, odor de terebintina
Tantas sementes torradas, a mortandade
As mãos tremulas da moça, o estômago mutilado

Leva a leve lua consigo, no espelho dos olhos
A jovem, cor de lírio nos limites do mel
Lançando a mão absinto, aroma de luto
Lamentando porque a lama não é legume ferido

As flores fenecem nessa solidão infecunda
Onde a fuga da fome consola o sofrimento
Os lírios da Etiópia fornecem o vão perfume
O odor fútil, que faz o mundo inteiro fugir

Passou a falta de pão, a erva fértil cresceu
Pepitas de amor e a doce polpa do morango
Os poucos lírios cresceram na praia da esperança
Transformaram-se em jovens adultos e crianças.

sábado, 7 de janeiro de 2017

A Filosofia da Incredulidade



Se a aurora resplandece em santa paz
O homem ingrato, não se lembra da existência de Deus
Se a tempestade esconde a luz da manhã
O homem protesta o fato,
E diz que Deus não existe...

Se as flores doam perfumes e frutos
O homem ingrato não se lembra de Deus
Se os espinhos perfuram a vida e a colheita encolhe
O home protesta o fato,
E diz que Deus não existe

Se a voz que clama no deserto da consciência
Não é ouvida
Se o livro da vida é lido de cabeça pra baixo
Deus protesta o fato,

E ainda pretende perdoar as loucuras dos homens...

CJJ

Auschwitz (profanatio)





“Nunca mais me esquecerei  esta noite, a primeira noite no campo, que fez da minha vida, uma noite longa e sete vezes mais aferrolhada” (Elie Wiesel)

Abrem-se os portões  da escuridão da improbidade
Onde o amor em tristezas, foi torturado e sufocado
Lancem essas pedras de tropeços, sem dó e panaceia
Conte-me as farpas que matam a fé, o peso da teodiceia

Judeus e outras raças agonizam entre fogos algozes
Crianças e ciganos etéreos, voam das chaminés do crime
As chamas que beijam apaixonadamente os gases
A alma  bestial da medonha maledicência sem ciumes.

Oh noite escura, tropeço da esperança, asas da morte
Quem dera-me chorar mil vezes por uma só má sorte
Entre as pétalas flamas de uma primavera de escuridão
Onde aos berros silenciosos, abrasam espíritos em prisão

Muitos, em tristes lembranças dizem ser tudo verdade
Outros  em risos arrogantes dizem ser tudo mentira
Oh! Nau de colombo! Afugenta toda  minha digna ira
Porque triste está meu coração, por  severas impiedades

Vou correr e fugir desses vastos Calvários memoriais
Fugir do estandarte de todas as mortes ambulantes
Fingir que sou humano, que creio na pia compaixão
Tentar ser mais afável com a caridade, um breve instante...


Clavio J. Jacinto

O Coração Perdido no Atacama

Sólida é minha solidão que veio a tona
Como rabiscos de papel  jogado no chão
Eu chamei a flor, a fabula das estações
Comigo vem dormir na noite de meus sonhos
Não flutuo, com o amor pelos triângulos dos mistérios
Árido é meus caminhos e as portas dos jardins
Já não escrevo a dor em papeis de sangue
Porque arde essa caridade exótica, nas bétulas
Sou herói sobrevivendo sozinho com alma de cactus
Nas areias floridas do  isolado Atacama
Sonambulo canto, amor por quem me ama
No sagrado império do meu espesso isolamento
Nos grãos de areia da terra nua sem relva
No chão do Chile, onde minha imaginação mora
Mas ai de mim, pobre peregrino de faz de conta
Um estalo, relâmpago é chuva lá fora
Acordo dessa perfumada quimera
Abrem-se as janelas reais, e vou  indo embora.

Clavio J. Jacinto

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

No Inverno As Estrelas Brilham Mais

É frio lá fora na vida
O vento uivante, canta uma canção sombria
As agulhas dos pinheiros perfuram a terra
Formigas se escondem nas folhas secas
Vem as nuvens, alma de todas as sombras
Cantando essa turva chuva, áspides de granizo
Pra ferir todas as dores da minha sensação

É frio dentro de mim
O sopro glacial me dá sorrisos rígidos
Minha alma trêmula, se assusta em prantos
Como se estivesse dentro da divina comédia
Vem as chuvas torrenciais sem piedade
Lavam as carpideiras sem choros
Até que o silencio confirme o repouso do medo

É frio o meu coração congelado
As nevoas beijaram meu rosto pálido
Meu ser se espraia e se aquece na luz da espera
Um fogo arde em chamas pra matar a saudade
Pálidas   brechas surgem em meus olhos
Me desbraveço, santa tranquilidade e brava paz
Descobri que na fria noite, as estrelas brilham mais.


Clavio J. Jacinto