Constelações Náuticas
Ao contemplar o horizonte infinito, meus olhos se perdem na imensidão marítima. Sinto, em meu íntimo, a vastidão que impulsiona minha alma e meu coração — translúcido como a água. Entre as lembranças, enumero cada saudade, como estrelas fulgurantes a adornar o oceano. Galáxias ocultas em minha imaginação revelam a essência da tristeza e da alegria, a fusão do frio e do calor, da beleza e do mistério. Em mim, e além de mim, reside a graça, a vida e a contemplação.
Ao longo da praia, observo as luminárias que acendem a chama da emoção em meu peito, preenchendo-me de expectativa. Sinto-me feliz, completamente presente, vivenciando um instante em que mergulho na essência do meu ser. As estrelas, tanto no céu quanto na terra, revelam uma união cósmica que transcende minha compreensão, mas que, ainda assim, inunda meu coração de alegria. Uma paz profunda habita em mim, e dela brota uma sabedoria que impulsiona meu coração e mobiliza minha alma. É o movimento da alma — uma jornada interior, a própria pulsação da vida.
Contemplo as estrelas-do-mar. Repousam na areia como joias sob o céu, e parecem mirar as alturas. Seu olhar se eleva, atravessa as nuvens e se perde nas constelações celestes. E eu, entre a terra e o céu, observo e contemplo. Absorto, extasiado, maravilhado, pois um espetáculo se revela diante de mim: o espetáculo da vida, da existência em sua plenitude. A vida é um mistério — e esse mistério só se desvela pela experiência. É um mistério que se revela com o amor. O amor é contemplação. Pois cada momento, cada instante, transforma-se em narrativa. Em minha narrativa. Em nossa narrativa.
A bioluminescência dos corpos celestes — como vaga-lumes soltos e estrelas cadentes — assemelha-se a sóis que orbitam meus sonhos. Sinto-me tomado por uma profunda alegria. Em meu interior, emerge a noção do ser, como nuvens translúcidas que conduzem a uma viagem transcendental, trazendo a chuva que fertiliza os campos. A névoa e o orvalho da noite, com seu frescor, envolvem-me como diamantes lapidados pela rotação da Terra e pelo movimento das águas. Deleito-me neste instante, na transcendência da minha própria visão, na contemplação. Este processo assemelha-se à Lua que orbita a Terra — um universo em constante movimento, que transcende o infinito e ultrapassa todas as possibilidades. É um milagre. A vida é um milagre.
E as borboletas perenes se foram, levadas pelo vento do Norte, enquanto as estrelas cintilam incessantemente. Essa luz dança sobre meus olhos, em uma sinfonia silenciosa, perceptível apenas ao espírito mais sensível, que pode senti-la e ouvi-la. Por meio dessa sinfonia, tudo se move: as ondas na praia, as folhas das palmeiras, as flores da laranjeira, as rosas perfumadas, a brisa marinha e o aroma da terra seca que recebe a chuva tardia. Tudo se reconstitui em um sistema aberto, para que possamos compreender. Compreender, decifrar os enigmas e conferir sentido à vida.
Ao norte, a estrela radiante — guia dos peregrinos e referência dos viajantes — brilha onde embarcações enfrentam as tempestades. E eu, com os pés livres na areia, vejo em cada grão um universo; em cada estrela refletida, um símbolo de inocência e esperança. Procuro decifrar cada enigma, cada código desses mistérios que se espalham pela imensidão arenosa até o horizonte infinito. Estrela após estrela, constelações náuticas repousam silenciosas sobre os grãos da areia. Tudo se aquieta, mas o silêncio é rompido pelo movimento das águas — águas transparentes, águas esverdeadas — como se todas as turquesas, pérolas e diamantes tivessem sido desfeitos e fundidos em um mar cristalino, onde minha alma navega e minha imaginação mergulha.
Eis a cena da coesão, o instante do equilíbrio. Estrelas que, abraçando a areia da praia, encontram sua firmeza. Ondas que se agitam sobre as dunas, sem jamais alcançar as montanhas. Águas que colidem contra as rochas, mas não as fragmentam. Da mesma forma, nosso espírito, ao contemplar a beleza da natureza — do céu, do mar e das estrelas-do-mar — torna-se inabalável, enraizado. Assim, podemos sorver de um oceano ainda mais profundo do que aquele que se apresenta aos olhos. Um outro oceano. Um oceano que transcende nossa percepção física — um oceano espiritual.
Ali reside um trono: o trono da sustentação, da manutenção de todo o cosmos, de todo o universo. E ali se assenta Aquele que está à direita da majestade nas alturas, envolto em seu manto — o manto da glória, da luz e da vida. Dele emanam, em profusão, a bondade, a beleza e a verdade, preenchendo abundantemente nossas vidas.
C. J. Jacinto



