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quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Constelações Náuticas

 

Constelações Náuticas

 


Ao contemplar o horizonte infinito, meus olhos se perdem na imensidão marítima. Sinto, em meu íntimo, a vastidão que impulsiona minha alma e meu coração — translúcido como a água. Entre as lembranças, enumero cada saudade, como estrelas fulgurantes a adornar o oceano. Galáxias ocultas em minha imaginação revelam a essência da tristeza e da alegria, a fusão do frio e do calor, da beleza e do mistério. Em mim, e além de mim, reside a graça, a vida e a contemplação.

Ao longo da praia, observo as luminárias que acendem a chama da emoção em meu peito, preenchendo-me de expectativa. Sinto-me feliz, completamente presente, vivenciando um instante em que mergulho na essência do meu ser. As estrelas, tanto no céu quanto na terra, revelam uma união cósmica que transcende minha compreensão, mas que, ainda assim, inunda meu coração de alegria. Uma paz profunda habita em mim, e dela brota uma sabedoria que impulsiona meu coração e mobiliza minha alma. É o movimento da alma — uma jornada interior, a própria pulsação da vida.

Contemplo as estrelas-do-mar. Repousam na areia como joias sob o céu, e parecem mirar as alturas. Seu olhar se eleva, atravessa as nuvens e se perde nas constelações celestes. E eu, entre a terra e o céu, observo e contemplo. Absorto, extasiado, maravilhado, pois um espetáculo se revela diante de mim: o espetáculo da vida, da existência em sua plenitude. A vida é um mistério — e esse mistério só se desvela pela experiência. É um mistério que se revela com o amor. O amor é contemplação. Pois cada momento, cada instante, transforma-se em narrativa. Em minha narrativa. Em nossa narrativa.

A bioluminescência dos corpos celestes — como vaga-lumes soltos e estrelas cadentes — assemelha-se a sóis que orbitam meus sonhos. Sinto-me tomado por uma profunda alegria. Em meu interior, emerge a noção do ser, como nuvens translúcidas que conduzem a uma viagem transcendental, trazendo a chuva que fertiliza os campos. A névoa e o orvalho da noite, com seu frescor, envolvem-me como diamantes lapidados pela rotação da Terra e pelo movimento das águas. Deleito-me neste instante, na transcendência da minha própria visão, na contemplação. Este processo assemelha-se à Lua que orbita a Terra — um universo em constante movimento, que transcende o infinito e ultrapassa todas as possibilidades. É um milagre. A vida é um milagre.

E as borboletas perenes se foram, levadas pelo vento do Norte, enquanto as estrelas cintilam incessantemente. Essa luz dança sobre meus olhos, em uma sinfonia silenciosa, perceptível apenas ao espírito mais sensível, que pode senti-la e ouvi-la. Por meio dessa sinfonia, tudo se move: as ondas na praia, as folhas das palmeiras, as flores da laranjeira, as rosas perfumadas, a brisa marinha e o aroma da terra seca que recebe a chuva tardia. Tudo se reconstitui em um sistema aberto, para que possamos compreender. Compreender, decifrar os enigmas e conferir sentido à vida.

Ao norte, a estrela radiante — guia dos peregrinos e referência dos viajantes — brilha onde embarcações enfrentam as tempestades. E eu, com os pés livres na areia, vejo em cada grão um universo; em cada estrela refletida, um símbolo de inocência e esperança. Procuro decifrar cada enigma, cada código desses mistérios que se espalham pela imensidão arenosa até o horizonte infinito. Estrela após estrela, constelações náuticas repousam silenciosas sobre os grãos da areia. Tudo se aquieta, mas o silêncio é rompido pelo movimento das águas — águas transparentes, águas esverdeadas — como se todas as turquesas, pérolas e diamantes tivessem sido desfeitos e fundidos em um mar cristalino, onde minha alma navega e minha imaginação mergulha.

Eis a cena da coesão, o instante do equilíbrio. Estrelas que, abraçando a areia da praia, encontram sua firmeza. Ondas que se agitam sobre as dunas, sem jamais alcançar as montanhas. Águas que colidem contra as rochas, mas não as fragmentam. Da mesma forma, nosso espírito, ao contemplar a beleza da natureza — do céu, do mar e das estrelas-do-mar — torna-se inabalável, enraizado. Assim, podemos sorver de um oceano ainda mais profundo do que aquele que se apresenta aos olhos. Um outro oceano. Um oceano que transcende nossa percepção física — um oceano espiritual.

Ali reside um trono: o trono da sustentação, da manutenção de todo o cosmos, de todo o universo. E ali se assenta Aquele que está à direita da majestade nas alturas, envolto em seu manto — o manto da glória, da luz e da vida. Dele emanam, em profusão, a bondade, a beleza e a verdade, preenchendo abundantemente nossas vidas.

 

C. J. Jacinto

 

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Entre lírios e caminhos



Entre lírios e caminhos,
Afago perfumes, aromas soltos:
Os campos, as flores nostálgicas,
O intrépido das chuvas de verão.

Minha alma vaga e tão trágica
Que chora em mármores e açafrão.
Caminhos obsoletos da infância,
O ermo de uma nau do sertão,
Riachos arenosos na minha respiração.

Olho firme as conchas marítimas,
O véu que parece algodão de morangos,
O verde ácido do limão.

Encenações e colóquios,
Monólogos do coração ferido
Neste campo silvestre e colorido.

Dores em minhas mãos,
O ouro polido,
Chapéu de palha,
Orquestra lusitana.

Meus sonhos transpassados de espinhos,
Minhas palavras num pergaminho,
Flores descalças em meus sapatos.
O fim do mundo.


 

 

C. J. Jacinto

 

(Calamidade)

(Calamidade)

No caudaloso choro, esse formidável rio da alma,
Encontra-se fecundo o lamento que desabrocha em gritos.
São prósperos os gemidos de uma dor insólita,
Fartura nas relvas de lágrimas inóspitas.
O labor da dor, o sopro da desolação.

Quem me dera um bálsamo aromático
Para suturar as fendas das breves ofensas,
O copioso clamor desta vida sangrada e volátil.

E que belas são as estrelas do pobre coração
Nesta travessia perpétua de palavras!
A taciturnidade de três dias, a minha esperança,
O repouso, a santa calma, uma só atenção.

E depois de tanto híbrido, o meu choro
Diz à alma tão penada: “Vai-te embora”.
Encerro-me no despertar dessa correção,
Na sapiência esperada de uma nova ponderação.

(Clavio J. Jacinto)

 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Templo

 



 

 

Tu És porta onde contemplo Deus

A via sacra e o Portal do templo eterno

Luz que dissipa minha escuridão

Paz que invade meu coração

 

Tu és caminho para o Pai

Glória que aquece minha doce esperança

Pão que sacia a fome da alma

A Palavra encarnada que me acalma

 

Tu és a vereda segura que afugenta o medo

O Sol que brilha no jardim espiritual

Fonte de água que refrigera a existência

O tesouro eterno que me sustenta

 

Tu és o “EU SOU” que por fim ecoa verdade

A rocha que sustenta a fé mais fraca

O começo e o fim de todas as coisas

E somente em ti podemos viver seguros

 

C. J. Jacinto