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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Épico de um Infante



Cedo fui embora
Ainda no céu do mar amniótico
No voo vazio do aborto
Na praia de sangue da vida

Cedo fui embora
A varíola e o sarampo me encontraram
Espadas e a guerra dos homens
Na estampa opaca do dia
Na dura sepultura fria

Cedo fui embora
Na fome e no sacrifício negro
Abandono e pobreza vaga
No nenúfar e no veneno doce
Nas caladas  da madrugada da vida

Cedo o relógio tocou
Minha partida e meu silício medo
O absinto do eterno cedo
Fui levado pra terra tíbia
Desterrado no cálice da solidão

Fui embora, alma infante
Anjo que foge do (limbo)
Etérea roupa de recém nascido
Sem despedida e adeus
Sem um beijo de amparo de minha mãe

Fui embora pra longe
Onde os abrolhos não chegam
Onde os espinheiros não ferem
Onde não há mais injustiça
Feliz dia depois do meu silencio


Clavio J. Jacinto

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