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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A CONFIGURAÇÃO HOLOGRAFICA

 

A CONFIGURAÇÃO HOLOGRAFICA.

 

C.  J. Jacinto

 

 A alma sombria deseja dominar o mundo, no espelho de todas as injustiças, um reflexo que nutre a alma de Narciso, a síndrome do hedonismo na face da escuridão mais sombria.

 Homens pardos, navegadores de todos os naufragios, cadáveres insepultos em torno dos clamores hediondos. É a terra de ninguém, é ali que a alma sombria flerta, alimenta seu desejo de domínio.

No espaço sagrado e uma nova Via Apia, culmina o que um antigo profeta chamou de vale da decisão, onde as multidões dos filhos de Adão discursam e se confraternizam ou se digladiam. Nesse campo de guerra, cujos espinhos nocauteia a sensibilidade, homens disparam verbos e substantivos, o suborno da própria decência para impor a opinião, o que se sabe da escuridão é que alguns defendem ela, como necessário para a luz brilhar. O projétil da sombra onde o ego descansa, uns dizem que seis é número de homem, e então o rejeitam para possuir a meia dúzia. Aos protestos na defesa incólume do frio, bravejam contra o gelo, e como rejeitam as bombas para em seguida beijarem a faca, diga-se de passagem, no vale da multidão, estão lá os que protestam contra a idolatria do sol e em seguida se prostram adorando a lua. A idéia rara que afia a lâmina de todas as línguas, pois que na tentativa de justificar o ódio a verdade, apenas se apropria do amor a mentira. A alma sombria é a suposta salvação da terça parte dos homens caídos, nessa junção de trevas com enxofre, o caminho intercalado nos protestos dos que rejeitam o amor ao dinheiro, mas amam a avareza.

Tal é o mundo sem luz dos homens, a alma da sombra deseja o domínio dos corações impenitentes, onde a falsa sapiência serve apenas para justificação qualquer aberração que se metamorfoseia para garantir que a outra aberração seja rejeitada por estar nua.

Assim o vale está dividido entre os que odeiam a luz e a outra metade que ama as trevas, e alguns poucos que se ardem em amores por uma libertação, ante a libertinagem da consciência.

Que poderia falar sobre essa panacéia? Assombrado pelo feiúra, a alma da sombra precisa descer e convencer os meros mortais, mas precisa de disfarce, um disfarce de encantamento, uma figura pública que toque a sutura de uma ferida mortal alojada no espírito humano. Não é goécia e nem teurgia, faces desamparadas de uma mesma moeda estampada em antigos pergaminhos escondidos nos monturos das mais hediondas heresias.

Como abelhas sem rainha, os homens do vale da decisão saqueiam a própria dignidade para convencerem a si mesmos de que há uma esperança no humanismo que se levanta na poeira dos ventos bravos.

O ensaio escatológico da alma sombria é conquistar os homens, e espera até o momento oportuno, até que se passe a embriaguez de todas as injustiças e lúcido cada um deles almeja por um fiasco de justiça ou equidade.

Tece na tapeçaria do nefasto, a urdidura de uma veste resplandecente para cobrir a face da aberração. É preciso um disfarce, uma fantasia de anjo de luz, convencer pelos olhos artificiais e corações rasos, que é um salvador, uma resposta reativa para uma sociedade de ambigüidades.

Veste-se de uma figura justa, aquele que tem um passado tenebroso, cuja natureza bebe do abismo, onde a justiça atemporal projeta a exposição dos piores crimes, mas os incautos homens embriagados pela ignorância são extremamente egoístas, pseudo-sábios que conseguem medir mesquinhez das sombras projetadas sobre os que odeiam e ao mesmo tempo cobrem com a cegueira aquelas que lhes convém. O crime do outro justifica o próprio, o pior e coisa ruim, a tempestade lutando contra o trovão e a catástrofe contra o cataclismo.

A alma sombria configura-se e ajusta-se conforme as expectativas da turba deseja conquistar o império humano, e desce ao vale num brilho fatal, hipnótico e operante, sagaz e sutil, aureola de todas as piedades falidas, a impiedade que se justifica pelo benefício de consagrar ao mortal a imortalidade, ao humano á divindade

(aplausos)

O vale das sombras se incendeia de uma luz boreal, é um ser meta-humano, sobressai-se em amplo dígito de brilhos, vestes cruas engastadas de raios de topázios e um discurso prismático, doar-se aos homens e viver para os homens. Oh que grandeza, seu passado se apaga com a luz que disfarça, e os homens se apaixonam pela retórica de um absurdo que parece tão lógico, que a perenidade da sabedoria humana fica ofuscada por um clarão de idéias que inflamam as paixões mais sutis do ego humano.

A falsa luz hipnotiza corações superficiais, é cativante porque leva ao cativeiro, e os homens algemados pelas sombras veneram a falsa luz que os ilumina pelo caminho da confusão, que se infiltra pela trapaça e trabalha na trapaça, não é um louco que espraia a sua loucura, mas um falso sábio que se esconde por trás de um discurso convincente. O mal mais perigoso não é o que nos ameaça, é o que se disfarça e nos convence. Não, mil vezes não, a terra do Eden brilhou através da serpente, não havia chifres mais olhos que cativam, a linguagem não ofensiva mas que provoca os mais deliciosos delírios, como um gotejar de efeito psicodélico que incendeia dentro da alma as mais cintilantes estrelas, um destilar de anedotas calmas que se aloja numa alma passiva.

O mais perigoso engano, quando universal para destruir a uma multidão, não vem com armas letais e com palavras trôpegas , vem com a retórica dos assuntos mais nobres, com o discurso mais voraz pelo qual anseia o homem. A configuração das forças das trevas emoldura-se por uma ilusão brilhante, uma apresentação fantástica, sem deixar rastros de intenções pitorescas de ruína. Vem mansos e tranqüilo, com suave lisonja, intensificado por uma alucinação que serpenteia o momento para tentar desviar os olhos humanos do passado.

Os homens do vale da decisão sabiam de onde aquele ser configurado num brilho intenso vinha, ele deixou a sua história escrita no passado, mas podemos crer na redenção do irremediável? Um vício não pode ser destruído por uma promessa, um crime não pode ser sepultado nas profundezas da indiferença. Mas o engano jaz sempre a espreita do homem que não quer usar balança justa, o engano será sempre um motivo de justa punição mais severa, se por fim, um ser alude ao outro, aquilo que precisa ignorar em quem defende para justificar seu ponto de vista.

A alma sombria brilhou no vale, ergueu-se um trono em cada coração hipnotizado, ele entrou, estabeleceu seu domínio no interior de cada alma, levou consigo os grilhões comprou cada alma por um discurso e cada alma se vendeu por uma promessa. E só então depois da conquista, as vestes se apagaram, a verdadeira natureza apareceu, o vale desceu quando os pilares da esperança caíram, e os homens colocaram a culpa um no outro por tamanha cegueira, e na infâmia da mais baixa escravidão, eles pisotearam uns aos outros, em ofensas e pragas, num destilar de ódio virulento, mas sempre se prostrando, adorando e servindo ao sistema das sombras que os escravizava.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Pavores e Temores



Clamei a graça em subita subida

Entre os lençois e os temporais da vida

Inquieto em chuvas torrenciais

transpasso a alma com ternura

Atravesso meu medo

Até encontrar mais coragem

Pois a existencia nas tempestades

Exige do núcleo do próprio coração

O heroísmo de suportar a nós mesmos

Livrando-se de todos os pavores

Libertando-se de todos os temores

De nossas desventuras.



C. J. Jacinto

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Primavera

 



.Ergo a aurea alegria

Contemplo:

As borboletas pousam 

Sobre a esperança

A primavera chegou


Um calice amor derrama

Senciência das flores

Meu coração anela

As batidas da eternidade

Infinito



CJJ

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Pedras e Prisões

 Palavras que se transformam em pedradas, servem para construir masmorras para o coração e muros para separar as almas uma das outras, assim os homens se separam e tornam-se solitarios e prisioneiros de si mesmos.


C. J. Jacinto

domingo, 9 de outubro de 2022

Sombras são Projeções, a Escuridão é um lugar

 


 (...)

Repousa a escuridão sobre as terras de meus medos divergentes. Sonâmbulos refúgios de uma alma temerosa, homens se escondem lá

 

Fora de mim, a parte de meus temores, a covardia se arrasta pelas cavernas de um abismo que pariu todas as ausências da iluminação

 

Quando me libertei deste denso lugar, em archote fosforescente refulgia a coragem de sair das trevas

 

Desistindo daquela escuridão berço do sono eterno num espaço de infinitas friezas, lugar onde gravita a covardia.

 

Mas do libelo a libertação, no aconchego de uma flor serena, nas sombras de um salgueiro, em refrigério encontrei a sabedoria.

 (...)


C. J. Jacinto

Corpo de Calcario

 

corpo de Calcário

 

Autor: Clavio J. Jacinto



Havia no deserto de Etten um recluso, foragido do mundo e da civilização, homem dotado de sútil percepção da vida, magro e maltrapilho, a voz rouca e uma barba que arrastava ao chão. Seu nome era Angst.


Notável pensador solitário poeta de todas as probabilidades e profeta sem visão futurística, o Apocalipse estava velado aos seus olhos, o agora era sua única experiência de vida.


Angst é o pai de todas as angústias, voz que clama no deserto, pesa mais fardo das aflições e naufraga no mar obscuro de todas as ansiedades.


Amante de livros, leitor nupcial, em todos os sentidos, uma sentinela acorrentada pelos grilhões da vida.


A voz rouca de Angst era a voz dos homens, cada um deles, na nobreza do pensar que corresponde o clamor da civilização:


"Eu morri. Em Teu sopro de neblina e de luz eu vibro, Céu, como se carregasse em mim o filamento da criação. Como se todos os fios invisíveis do ser estivessem entrelaçados no cosmos enchendo meu peito!"


Pasmo o pensante solitário era a voz de todos os homens, caudaloso rio que verte até o fim do mundo,  trapo restaurado pela esperança que repousa em coração aflito, e da tempestade furiosa  de areia, assombração de furiosas náuseas, ele ouviu o atenuante filósofo das sombras:


"Pele por pele e tudo o que o homem tem dará por sua própria vida."


Esse é o labirinto da vida, o clamor do calcário, alma sólida em vertigens verticais, maltrapilho homem do ermo.


Angst tomou um livro de sua austera biblioteca, imponente voz arauto de todas sonolências, o despertar do pensamento para a verdade, quem busca os fatos não fica preso ao grilhões do engano.


Terríveis e sonâmbulos sentimentos sem sonhos, o crepitar de estrelas de fogo fátuo , e o que mais?


Angst se senta no seu trono, a sepultura, e abre o livro e lê a sentença de todos os breves mortais:


"Tu és pô a ao pó retornarás"


A vida é realizada na realidade da solidão, ela é feita de oportunidade e decepções, todos temos uma jornada infinita, um caminho a percorrer com coragem, a vida é para os corajosos, é muito fácil celebrar nossas conquistas difícil e permanecermos emocionalmente equilibrados em nossas derrotas.
Na abertura do livro em uma página alheia fincada nos papéis amarelados como livros espremidos num acervo antigo, Angst leu:


"O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto."


Levantando-se de seu assento de descanso, lugar da carne feita pó, inclinações táticas da vaidade, sentimentos atávicos de orgulho, Angst percorre com os olhos o horizonte de todas as estações da vida. A saudade de ver as vias sonoras de beija-flores em equilíbrio entre as rosas e o vento. A morte não é um nocaute fatal sobre a existência, o gemido do medo não acelera o retorno ao pó, mas enfraquece a chama da esperança.


Assim, a lembrança daquele dito único, do filósofo dos pesares, sob o peso de uma esperança prolongada , Angst, se lembra da sentença:
"No auge do inverno, finalmente aprendi que dentro de mim havia um verão invencível."


E era esse o sentimento de angústia que irrigavam as flores que iria decorar seu túmulo.


A resistência de não chorar, o sofisticado modo de olhar para dentro de si mesmo, uma ascese do próprio coração a impor flagelos de nostalgias.
O nosso Angst levanta-se, com as mãos bate nas vésperas das vestes para sacudir o próprio pó  que nutre a sua vida, e na sombra de uma macieira em flores, chora as desistências de seu fôlego , o respirar de todos os ciclos da infância até a velhice, os ponteiros de um velho relógio marchetando a alma para produzir uma obra de arte vital. A solidão não desgasta um coração forte, mas lapida-o com conhecimento profundo.


A sua hora chegou, a percepção de que o tempo passa torna-se o homem sensível para as coisas mais importantes. Como uma bomba relógio, Angst percebe que cada pulsar e a contagem regressiva para uma explosão de silêncio, ele abre um outro livro, ali está escrito:


"Um homem só pode ser ele mesmo enquanto estiver só; e se não amar a solidão, não amará a liberdade; pois é somente quando ele está sozinho que ele é realmente livre"


Um grito insurgente vem da alma, Angst para de respirar, o coração encerra sua marcha e a explosão da morte ocorre. Todos os silenciosos se reúnem em um só lugar, exterior e interior. Um cadáver repousa no reino da inércia ao lado do sepulcro, e longe a torre de um relógio pálido também está prestes a abandonar o tempo, e isso ocorrerá ao terceiro dia.

 

 

Extraído de: Contos Ordinários e Extraordinários

O Bosque das Arvores Que Choram


O Bosque das
Árvores que Choram

 Clavio J. Jacinto


Todos os que  descem pelo caminho das mágoas, conhecem um bosque de muitas árvores que possuem um dom diferente, elas não frutificam e nem florescem, embora o observador perceba que há entre tantas árvores, ipês e manacás. Elas apenas choram.  Algumas crianças que por lá passaram, chamaram aquele lugar de floresta das lágrimas, eu ainda prefiro seu nome tradicional: O Bosque das Árvores que Choram. é um belo nome, senão o melhor.   Não há estações que não seja irrigada pelos choros das árvores. São gritos de muitos ias misturados com soluções épicos, uma verdadeira orquestra de sentimentos e lamentos, é possível que algo seja tão fora do normal, mas elas derramam suas lágrimas como se fossem nuvens da terra, apegadas ao chão de todas as coisas.

Este mistério foi o enigma dos séculos, talvez um enigma milenar, algo que me deixou angustiado, tentar decifrar o motivo pelo qual, arvores choram. Eu procurei respostas entre os filósofos, e eles não me deram uma boa resposta, embora muitos deles fossem argutos , então procurei os poetas, eles poderiam me dar uma resposta. Mas quando souberam da minha história e foram verificar se realmente a descida pelo caminho das mágoas levava a esse bosque tão misterioso, chegando lá, ficaram tão sensibilizados que acabaram voltando chorando. Era como se os lamentos das árvores se apoderasse do coração deles. Não tive as respostas, mas continuei a procura. Encontrei um profeta, falei a respeito de minhas indagações acerca de um bosque onde as árvores não florescem e nem frutificam, apenas chora, o ano todo. O profeta também ficou pensando sobre o mistério e não deu uma resposta satisfatória.

Teria que procurar, ainda que tivesse que correr todo o mundo em busca de alguém que pudesse me dar uma resposta sobre um assunto tão controverso quanto  árvores se comportam como se fosse  humanos infelizes, ou ainda como almas crepitando nas dores das chamas de uma chaga.

Desci ao caminho das mágoas, me sentei embaixo de um salgueiro, em união com o silencio do meu coração, para ouvir os lamentos da floresta. Ouvia os pingos dessa chuva lacrimejante sobre as folhas, torrenciais insólitos de um mistério que não podia desvendar, arvores não tem sentimentos, pensava eu, ou elas sentem?

De fato, percebi que, apenas alguns minutos debaixo do salgueiro e já estava encharcado de lagrimas.

Retornei sem uma resposta, minha vida estava sob o peso esmagador das coisas indecifráveis. Mas deveria continuar buscando, entre faias e ciprestes colhi em um cálice algumas lagrimas, eu tive a idéia de levá-las ao químico, para que observasse o fenômeno e me desse uma resposta, afinal de contas as árvores não tinham glândulas lacrimais, como poderiam chorar ?

Mas ele também não me deu respostas, apenas argumentou que há no universo certos tipos de mistérios que não podemos decifrar, pois se encontram dentro de uma caixa tão fechada que ao guardadas pelo silêncio na multidão de milênios.

A vida tece uma veste de enigmas, e ela apenas faz, para cobrir a nossa ignorância de vergonha.

Voltei pelo caminho das mágoas, eu teria que levar comigo uma criança, talvez ela pudesse me ajudar a decifrar o mistério das árvores que choram, quando chegamos lá, a criança nada falou, apenas abraço-se á uma cerejeira e começo a chorar com ela.

Tomei a criança pelas mãos e comecei a chorar com ela, agora eram arvores, uma criança e um adulto chorando. Pelo jeito o mar da angústia vai transbordar e inundar toda a terra.

Decidi sair dali, pensei que deveria existir um bosque de árvores risonhas, mas tentei imaginar onde seria a localização de um bosque de árvores dando risadas. Outra idéia surgiu no coração, e se existisse um bosque de árvores que cantam? Sacudi a minha cabeça, devo estar ficando louco.

Voltando ao mundo normal, lá onde árvores não cantam, não dão risadas e nem choram, tentei coordenar o meu coração, para tentar achar uma resposta para o caso tão enigmático que estava envolvido.

Pensei comigo mesmo que, se permanecesse frente ao bosque ouvindo as árvores chorando e meditando sobre o motivo pelo qual elas fazem isso, talvez encontrasse uma resposta dentro de meu próprio coração.

Mas outra idéia surgiu, consultar todos os livros de biologia, as enciclopédias poderiam ter uma resposta, é certo que a ignorância é um estado de escuridão, aguardando que uma luz de sabedoria acesa em outro lugar seja encontrada e colocada no recinto onde ela perdura.

Passei dias e mais dias abrindo livros e mais livros e nunca encontrei as respostas que precisava, até que um dia olhei no espelho, e vi a mim mesmo, um homem de face envelhecida e mãos trêmulas.

Um homem que viveu na humanidade, que viu guerras e injustiças, que lutou para sobreviver, que carregou fardos e enfrentou tantos problemas, agora já fraco, com os pés calejados e o coração desgastado por bater em todas as estações.

Era o fim da minha vida, o ceifar de meus pensamentos e ações, o caminho linear da existência. Passamos a vida em busca de respostas quando deveríamos viver a vida em busca de perguntas.

Desci o caminho das mágoas, voltei ao bosque, apoiado por uma bengala, já caminhando com dificuldades. Aquele pé de salgueiro ainda estava lá, continuava chorando.  Aproximei-me dele, as árvores quando sentiram a minha presença, um velho homem de pele retorcida e ossos frágeis, todas pararam de chorar. Era como se fosse um milênio de silêncio sacro. O salgueiro silencioso sentiu os meus braços, abracei-me á ele, e quando todas as árvores do bosque das árvores que choram se silenciaram diante da minha existência última, penas eu chorei e chorei muito, enquanto elas apenas me ouviam. Desde então, o bosque das árvores que choram, perderam suas folhas, silenciaram na noite da minha partida, e apenas restou uma pequena roseira que floresceu, entre a fenda de uma pedra, sem nunca murchar, pela multidão dos séculos, apenas para perpetuar os mistérios da vida.

 


Extraído de: Contos Ordínarios e Extraordínarios.