As arvores são meus refúgios
Sapatos da alma, manto da imaginação
O oleiro cava nas suas raízes
O fruto inspira o mergulho nos enigmas
Somos todos homens foragidos
As arvores revestem as montanhas
São códigos indecifrados dos penhascos
O cume da vida é a sombra de um oleiro
Os ramos da videira, os parafusos
Que perfuram os poemas dos rouxinóis
Lá fora no vento das copas
As folhas tontas caem no chão sem dó
As formigas carregam elas
Em cortejo fúnebre sem choros
O oleiro recolhe graves para o forno
O fogo é inimigo das arvores sem pés
Elas não correm pra lugar algum
Mas o oleiro fere a terra com a foice
Acaricia as arvores com as mãos
Elas se entregam sem razão
Para a fornalha que assa os tijolos
O pão da alma desabrigada
Clavio Juvenal Jacinto