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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

CHUVAS VERMELHAS



Vem nuvem solitária, voa as estepes
Desse coração pobre e rico
Onde as sementes não querem germinar
Eis que a lua não quer lá dentro iluminar

Vem e te misturas as outras nuvens
Vem com a mais terna história
Dispõe-te a ver tristezas tantas
Não te acanhes e mesmo chora

Vem e dá-me um pingo, como areia
Grãos líquidos e transparentes centelhas
Dá-me um pedaço de coração de águas
Um pingo moldado dessa chuva vermelha

Estou em montanhas e nascentes
Face de pisadas rosto de viventes
Eu, mesmo como estrada sem encruzilhada
As hostes de  chuvas, na terra molhada

Tu que em gotas areja a alma
Como salmos  cantados e arrojados lamentos
Nos caudalosos rios das fragrâncias
Nos lírios, nas palhas e no sarmento

O que fazes mais, chuva vermelha?
Mercúrio que dança  num cadinho
Jóia das praias dos pincéis da aurora
Laços que apertam a vida com os espinhos

Eu não mereço tantas dessas dádivas
Mas até os ventos cantam nas novidades
Como um sopro arrojado dos anéis de saturno
Eu lavo breve, as rosadas águas da ansiedade

E a chuva que vem, continua caindo
Vermelha e tingindo as palmas dos sertões
Como as atômicas e livres explosões
Causa desordem na arte pintura da vida

Me deleito nos berços desses trovões
Sou lavado em chuva vermelha e botões
Como um ser invisível e imaginário
Corro nas pontas do tempo,  corcel legendário

Rubro e cinzas outras cores e outros tons
Amor, virtudes, bondade e outros dons
Vestes brancas, meu revestimento
As aguas lavaram meus erros e pigmentos

A chuva passou, as gotas cessaram
O mar se acalmou, ondas não mais agitaram
É tempo de partir pelas pontas dos céus
Vou-me embora, pelo caminho dos véus

E as portas dos astros que se partiram
As nuvens que do arco se esconderam
Na calda de uma estrela que sempre passeia
Na face de todas as galáxias, num caminho de um grão


De Areia...

CLAVIO JUVENAL JACINTO

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